São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Governo não resolve a crise do "grampo"

Amanhã, diretor da PF dará explicações a ministro

RUI NOGUEIRA
COORDENADOR DE PRODUÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela segunda semana consecutiva o governo terminou o expediente na sexta do jeito como começou a segunda-feira: em crise e sem uma solução definitiva para os problemas.
A preocupação com a fragilidade do sistema financeiro, na semana passada, continua existindo, mas deu lugar ao escândalo do "grampo" envolvendo o projeto Sivam, de US$ 1,4 bilhão, o presidente do Incra, Francisco Graziano, o ex-chefe do Cerimonial do Planalto Júlio César Gomes dos Santos e o diretor da PF, Vicente Chelotti.
Sem ter concluído com exatidão a quota de responsabilidade de cada personagem no escândalo, o governo está há exatos 17 dias sem decidir o que fazer com eles.
Mas o Planalto já sabe o papel que cada personagem desempenhou no escândalo do grampo. Graziano, assessor com total intimidade com FHC, travou uma disputa pela definição de poder com Júlio César.
Graziano, que cuidava da agenda e do acesso ao presidente, incomodava-se com o fato de Júlio César tentar, à sua revelia, abrir passagem para fazer chegar a FHC empresários e amigos com interesses nas decisões do governo.
O governo não tem dúvida de que foi essa disputa o pivô da investigação feita pela PF. Sob o argumento de que precisava investigar suspeita de envolvimento de um "certo Júlio César, vulgo JC" com o tráfico de drogas, a PF conseguiu autorização judicial até para fazer escuta telefônica.
Com o telefone "grampeado", o embaixador Júlio César forneceu à PF indícios de que poderia estar fazendo tráfico de influência em favor do projeto Sivam. Sobre drogas, nada. E o juiz que autorizara a investigação manda parar tudo.
O relatório com as transcrições das escutas telefônicas vira uma arma de acusação de Graziano contra Júlio César.
No dia 9, ele mesmo confessa em nota, entregou o relatório da PF ao presidente para que tomasse uma providência.
O mistério que o governo precisa resolver está no fato de Graziano dizer que recebeu o relatório da polícia das mãos do seu assessor, Paulo Chelotti, funcionário da PF e irmão do diretor da mesma PF, Vicente Chelotti.
Ao presidente, Graziano disse que obteve o relatório com "amigos da PF". Paulo disse que o conseguiu com "agentes". Amanhã, o diretor da PF explica-se ao ministro Nelson Jobim (Justiça). E tudo pode terminar com a demissão de Vicente Chelotti. Só.

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