São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Independentes, elas tiram férias da família

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tirar férias, para elas, significa muito mais do que livrar-se por uns dias de horários, trabalho, telefone e filas no banco. É a oportunidade de descansar também do marido, dos filhos e da casa.
Longe das obrigações, essas mulheres entram no cinema a hora que querem, vão às compras sem ninguém resmungando atrás delas e se entregam ao "turismo contemplativo" sem compromisso.
"Quando viajo sozinha costumo me sentar em bancos de praça, por exemplo, só para observar as pessoas e não pensar em nada", diz a comerciante Amélia Pinheiro, 45. "Com marido e filhos, não poderia me dar a esse luxo."
Amélia está casada há 22 anos e tem dois filhos de 21 e 19, mas quando eles tinham 12 e 14 ela já fazia suas viagens de férias. "Deixava as crianças com o pai e orientava a empregada", conta.
Ela diz que criou os meninos "independentes" justamente para que eles se virassem sozinhos em uma hora dessas. "Não faço muita falta", afirma.
Quem estranha, quando Amélia pede férias, é o marido. "Ele não gosta mesmo. Há uns anos, só de birra, ele foi para o Nordeste sem mim depois que eu cheguei de uma viagem à Europa", lembra.
Amélia conta que os dois não se dão mesmo muito bem em viagens. "Temos gostos completamente diferentes. Eu gosto de museu, teatro, moda, ele detesta. Uma vez, em Nova York, ele ficou com uns amigos meus enquanto eu fui ao teatro sozinha. Tive que vender o ingresso dele na porta", conta.
Amélia não se importa de ir aos lugares desacompanhada. "Adoro entrar no cinema sozinha e assistir a quantas sessões quiser, sem dar satisfações a ninguém."
Outro programa que as esposas em férias adoram fazer é ir às compras. A professora Patrícia Revoredo, 33, diz que é capaz de passar "dias" atrás de uma determinada calça ou vestido, se não há pressão ou mau humor.
"Chego a ir a 15 lojas da mesma grife para ver se não há peças diferentes. Imagina fazer isso com o marido resmungando atrás?"
Patrícia é casada há nove anos e tem dois filhos, de 5 e 2, que ficam com o marido e a sogra quando ela viaja. "Não é muito fácil para eles, mas eu preciso de descanso também", afirma.
Ela diz que "desliga" da casa nessas ocasiões. "Não tenho culpa. Acho até bom que o pai fique, para o caso de acontecer um acidente. Pelo menos elas não ficam órfãs de vez", diz.
Deixar os filhos com o marido para viajar é algo que exige da empresária Juliana Serra, 36 (dois meninos de 4 e 6), um certo sangue frio. "Durante a viagem, os recados deixados no hotel misturam drama com chantagem emocional", diz. "Meu marido manda dizer coisas como: Tive que levar as crianças ao médico. Estou morrendo de saudades."
Por essas e outras, a advogada Míriam Villela, 51, esperou que os filhos crescessem para tirar férias familiares. "Meus filhos estão criados e eu, ficando velha. Quero fazer uma viagem longa antes que apareçam osteoporose, artrite, etc", diz.
Míriam planeja passar seis meses do ano que vem viajando pelo Brasil, só com amigos. Ela teve a idéia assistindo a um programa de entrevistas em que o marido da atriz Débora Bloch, o francês Olivier Anquier, contava as viagens de sua mãe pela Austrália.
"Pensei imediatamente em fazer o mesmo no Brasil", diz. Ela pretende alugar um carro e juntar amigos (homens ou mulheres) dispostos a "conhecer melhor" o país. Mírian espera pagar a viagem com o aluguel de um apartamento que possui. "Não tenho reservas só para isso", afirma.
O marido de Míriam gostou da idéia, mesmo depois de saber que não vai junto com ela."Ele achou fantástico", diz Mírian. "Disse que depois é a vez dele."

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