São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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Chefe do Incra se vê em 'processo kafkiano'

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Graziano, ex-secretário particular do presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmou ontem estar sendo "vítima de um processo kafkiano".
O adjetivo é uma referência ao escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924), autor de uma literatura de humor mórbido, que extrema os absurdos do cotidiano.
No universo kafkiano, é frequente a personagem ser objeto de perseguições ou punições sem saber a razão, situação vivida, por exemplo, por Joseph K. no romance "O Processo", do autor.
Graziano negou qualquer envolvimento com a escuta telefônica instalada pela Polícia Federal na casa do ex-chefe do cerimonial do Palácio do Planalto Júlio César Gomes dos Santos, fez acusações genéricas e disse que não vai pedir demissão do cargo.
O presidente do Incra acusou de estar por trás do grampo "um grupo de pessoas que trabalharam na campanha" do presidente Fernando Henrique Cardoso, que já "tinham problemas" com Júlio César, algumas da Polícia Federal.
Sem dar detalhes, Graziano disse que alguns desses "problemas" teriam começado já no governo José Sarney (1985-89), durante o qual o embaixador também chefiou o cerimonial do Planalto.
O presidente do Incra também apontou, de forma genérica, grupos existentes na PF insatisfeitos com as mudanças que o diretor-geral da entidade, Vicente Chelotti, estaria fazendo no órgão.
Esses policiais, segundo Graziano, com o objetivo de prejudicar o diretor-geral da PF, acabam atingindo ele próprio e FHC.
O irmão de Vicente Chelotti, Paulo Chelotti, assessor de Graziano, é um dos suspeitos no episódio do grampo. O presidente do Incra fez questão de inocentar seu assessor. Graziano considera "um azar" o fato de os suspeitos no grampo serem seus assessores ou pessoas ligadas a ele.
Além de Paulo Chelotti, outro envolvido é o fotógrafo Mino Pedrosa, sócio do assessor de imprensa de Graziano, Augusto Fonseca, na empresa "Free-Press".
Graziano reafirmou sua inocência e disse que "tem muita gente pegando carona" no caso, para tentar afastá-lo do cargo. Ele apontou, por exemplo, os grupos que não querem a reforma agrária no país. Um dos compromissos de Graziano à frente do Incra é apressar a reforma agrária.
Graziano disse que a única participação que teve no caso do grampo foi informar o presidente. "Apenas recebi a informação e fiz o que era meu dever de lealdade fazer", afirmou.

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