São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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Para técnicos, prefeitura despreza periferia

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois ex-secretários municipais e o atual titular da pasta de Habitação e Desenvolvimento Urbano afirmam que apenas um plano diretor, que obrigue o Estado a investir na periferia, pode alterar o quadro de exclusão social na cidade de São Paulo.
Especialistas em urbanismo, eles apontaram a má distribuição de renda no país e a falta de investimentos públicos na periferia da cidade como as causas que levam 7,9 milhões de pessoas a viver em áreas com acesso precário à saúde, educação, moradia e renda, conforme revelou ontem a Folha.
O arquiteto Cândido Malta, ex-secretário municipal de Planejamento (76-81), propõe ainda a criação do "crime de natureza urbanística para obrigar o administrador a investir na periferia".
Segundo Malta, vice-presidente do Movimento São Paulo, os túneis construídos pelo prefeito Paulo Maluf (PPB) são obras "supérfluas e prejudiciais".
"As áreas centrais, melhor equipadas em infra-estrutura, são mais disputadas, o que as torna mais caras. Os prédios provocam um adensamento urbano maior, o que atrai mais carros e exige mais obras, que são caríssimas. Assim, vai sempre faltar dinheiro para a periferia", conclui Malta.
Ex-secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano (89-88) na gestão de Luiza Erundina (PT), a arquiteta Ermínia Maricato diz que o Estado investe apenas onde mora a população de alta renda.
"A exclusão é construída, até o favelado acha importante os túneis do Maluf", afirma. Maricato diz que prefeito que investe na periferia não ganha eleição.
O secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Lair Krahenbuhl, diz que é preciso "levar emprego à periferia, onde há densidade habitacional, para fixar a população no seu distrito". Ele defende a criação de áreas industriais na zona leste, por exemplo.
Krahenbuhl concorda com Maricato e Malta sobre necessidade de um plano diretor, mas discorda das críticas às obras de Maluf. Segundo ele, as obras provocam um "efeito-dominó" que beneficia toda a cidade. Afirma que o Cingapura (projeto de casas populares) atende à população de baixa renda.

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