São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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Vítimas da moda enchem bolso de estilistas

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ano passado você odiava tons pastel. Não se encontrava uma peça de amarelinho, azulzinho ou verdinho em seu armário. Mas este ano comprou uma camiseta rosa clarinho. Há um ano, só usava sapatos boneca. Agora tem um par de sandálias branca.
Esse é o comportamento clássico de um "fashion victim" (vítima da moda), termo criado para identificar quem segue todas as tendências da moda.
As vítimas mudam seu visual em todas as temporadas. Por exemplo, há dois anos se vestiam como grunge. Haja camisa xadrez e calça jeans esfarrapada!
Ano passado adotaram o "baby look". Assim que o verão chegar, vão se uniformizar com roupas brancas ou tons pastel.
Segundo Heitor Werneck, 28, estilista da Escola de Divinos, os teens são os maiores escravos da moda. "Os adolescentes que têm dinheiro para gastar são completamente 'fashion victims"', diz.
"Esses escravos da moda são uma delícia para quem está vendendo, sempre compram o que a gente faz", afirma.
Ele conta que é fácil convencer essas pessoas a comprar uma roupa. "Basta dizer que está na moda, e eles levam", diz.
Para ele, ser vítima da moda não está apenas ligado à roupa. "O adolescente que é vítima da moda muda seu gosto musical, o que come e os lugares que frequenta ", diz.
O estilista da Ad Libitum, Anderson Rubbo, 23, concorda. "Os jovens são descompromissados. Hoje gostam de uma coisa amanhã gostam de outra", diz.
Ele explica como funciona o mundo da moda: "Ela muda o tempo todo para vender mais, para as pessoas ganharem mais dinheiro", diz.
Tuffi Duek, 40, estilista da Forum e da Tritton, também identifica vítimas da moda entre os seus consumidores.
"Tem gente que acha que se usar a roupa do último tipo, vai se tornar moderno. Essa é a verdadeira vítima. Modernidade é um conceito mais abstrato."
Duek dá a dica para fugir desse papelão. Segundo ele, "o importante é buscar seu próprio estilo". "Quem fica o tempo todo seguindo os hypes da temporada acaba vítima da moda", diz.
O estilista afirma que não espera que o consumidor saia de suas lojas fantasiado. "Acho importante a pessoa usar o que se adequa ao seu estilo", diz.
Tatiana Allers, 20, já comprou um vestido branco da coleção de verão da Forum, mas não se considera uma vítima da moda. "Não uso uma coisa que não gosto só porque está na moda", diz. Mas ela assume que seu gosto muda a cada estação.
Tem quem veja um lado positivo nos adolescentes seguirem a moda. "A minha esperança é que o conceito de moda permaneça na cabeça dos adolescentes, para eles não crescerem e virem uns caretas horrorosos", diz o estilista Walter Rodrigues, 35.
O estilista diz que admira os jovens que têm o seu próprio conceito de moda. "Isso de ir atrás de tudo o que está na vitrine é péssimo", diz.

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sobre vítimas da moda à pág. 6-6

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