São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995 |
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Livro revela o lado esotérico de Pessoa
JOSÉ GERALDO COUTO
Publicado pelas editoras Ground-Aquariana, o livro será lançado na próxima quarta-feira, um dia antes do aniversário de 60 anos da morte do poeta. Além de 42 poemas (oito deles inéditos no Brasil) que tocam em temas místicos, ocultos ou esotéricos, o volume traz uma compilação de textos em prosa do autor, reunidos sob o título "O que É o Ocultismo", e o horóscopo de Pessoa feito pelo próprio. Graças a esses textos e à pertinente introdução de João Alves das Neves, aprende-se que Pessoa se aproximou de diversas correntes esotéricas: espiritismo, astrologia, maçonaria, Rosa-Cruz e teosofia. Aparentemente, à parte a astrologia, de que se tornou um respeitado especialista e praticante, não chegou a abraçar nenhuma dessas modalidades do oculto. "Havia em Pessoa, com relação ao ocultismo, sobretudo uma inclinação de estudo", disse à Folha João Alves das Neves, 58, diretor do Centro de Estudos Fernando Pessoa de São Paulo. Para Neves, Pessoa se aproximou do ocultismo "na tentativa de devassar o mistério da existência, de responder as perguntas que ele se fazia sobre Deus". Em sua poesia, Pessoa investigou o mistério tanto sob seu próprio nome como sob a capa de seus heterônimos Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Há dois poemas de Campos e um de Reis em "Poesias Ocultistas". Só o heterônimo Alberto Caeiro não se interessou, aparentemente, pelo oculto. "O Caeiro é um heterônimo muito especial, voltado para as coisas simples do campo. Talvez pudesse ser chamado hoje de poeta ecológico", diz Neves. Na verdade, além dos três heterônimos mais conhecidos -Caeiro, Campos e Reis-, Pessoa deixou textos escritos sob nada menos que 70 pseudônimos. Um deles, Raphael Baldaya, era astrólogo. A astrologia está presente no único livro de poemas publicado em vida pelo autor, o épico "Mensagem". O estudioso luso Pedro Cardoso sustenta a tese de que, na segunda parte de "Mensagem", "Mar Portuguez", cada poema corresponde a um signo zodiacal. Pessoa chegou a pensar em exercer profissionalmente a astrologia. Foi sua atividade de astrólogo amador que o levou a aproximar-se do mago e charlatão inglês Aleister Crowley, cujo "Hino a Pã", na tradução de Pessoa, consta de "Poesias Ocultistas". Crowley impressionou-se com uma correção que Pessoa fez de seu horóscopo e resolveu ir conhecê-lo em Lisboa. Ao que parece, o poeta não o levou muito a sério. As relações de Pessoa com outras modalidades de ocultismo são mais ambíguas. Judeu por parte de pai, católico por parte de mãe e espírita por parte de tia, o poeta era um poço de contradições. Em cartas pessoais, refere-se a suas próprias faculdades mediúnicas, que em alguns momentos aproximaram sua poesia da "escrita automática" dos surrealistas. Em certas passagens de "O que É o Ocultismo", manifesta grande simpatia pela maçonaria (perseguida então pelo ditador Salazar), pela teosofia e pela Rosa-Cruz. Em outras, mostra uma aguda lucidez crítica diante dessas tendências. O escritor que se dividiu em vários "eus" poéticos estava dividido também, ao que parece, em outros tantos "eus" espirituais. Em meio a esse mar de inquietações, uma frase do poeta soa como definitiva: "O que Deus fez oculto (se Deus fez alguma cousa oculta) é para se conservar oculto. Senão, ele tê-lo-ia feito claro". Livro: Poesias Ocultistas Autor: Fernando Pessoa Organizador: João Alves das Neves Lançamento: 29 de nov, 19h30, no auditório das editoras Ground/Aquariana (rua Pamplona, 935, conjunto 11) LEIA MAIS sobre Fernando Pessoa à pág. 5-5 Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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