São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mais deputados são acusados de extorsão

EMANUEL NERI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Os deputados Marquinho Chedid (PSD-SP), Eurico Miranda (PPB-RJ) e Vicente André Gomes (PDT-PE) poderão ter seus mandatos cassados por causa de envolvimento no esquema de extorsão a proprietários de casas de bingo.
A extorsão pode ter superado R$ 3 milhões. Segundo a Polícia Civil paulista, só na Grande São Paulo existem 30 bingos -a estimativa é que cada um deles tenha dado no mínimo R$ 100 mil para a "caixinha".
O valor arrecadado pode ser bem maior. O esquema abrangeria a arrecadação de dinheiro de bingos de outros Estados. Existem cerca de 500 bingos em todo o país. A polícia acredita que apenas parte do dinheiro foi paga.
Membros da CPI dos Bingos, os três deputados são acusados pelo empresário James Wessel, dono dos bingos Garitão, de cobrarem um pagamento de R$ 400 mil.
Em depoimento dado anteontem à noite à polícia paulista e ao deputado Beto Mansur (PPB-SP), corregedor da Câmara, Wessel afirmou ter recebido a visita dos três deputados em seu bingo à meia-noite do dia 14 de outubro.
Os deputados teriam examinado a documentação dos bingos e marcaram um encontro com Wessel para as 10h do dia seguinte, no hotel Brasilton, em São Paulo. Nesse encontro, o empresário diz que conversou apenas com Chedid.
Os outros dois deputados estariam no hall do hotel. Segundo o depoimento de Wessel, Chedid disse que a situação do bingo Garitão era irregular. "Daqui a uma hora uma pessoa vai te procurar para te ajudar", disse Chedid.
Wessel afirmou ter sido procurado logo em seguida por Alejandro Ortiz, proprietário de dois bingos em São Paulo. Segundo ele, Ortiz pediu US$ 300 mil por cada um dos três bingos de Wessel.
O empresário afirmou ter dito a Ortiz que não poderia pagar aquela importância. Marcaram um novo encontro para a semana seguinte, no hotel Brasilton, com a presença de Chedid. Nesse encontro, a conversa foi intermediada por Ortiz.
Ficou decidido, segundo o depoimento de Wessel, que ele pagaria apenas US$ 400 mil, divididos em três parcelas. A primeira parcela seria paga agora em novembro. Mas a denúncia do caso levou à suspensão do pagamento.
Marquinho Chedid também é acusado de extorsão de R$ 300 mil pelo empresário Ricardo Steinfeld, dono do bingo Liberty Plaza, de São Paulo. A metade desse dinheiro teria sido entregue ao advogado Francisco José Franco.
O advogado é apontado como intermediário de Chedid na negociação com donos de bingo. Steinfeld também deu depoimento anteontem à polícia.
A polícia de São Paulo gravou conversas telefônicas em que o advogado Franco negociava o pagamento da "caixinha". A Corregedoria da Câmara vai ouvir os deputados envolvidos.
A Folha apurou que a orientação da direção da Câmara é cassar os três deputados, caso se comprove mesmo seu envolvimento na "caixinha". Há pressões na Câmara para que a CPI seja extinta.

Texto Anterior: Sem-terra fazem protesto contra prisão
Próximo Texto: Chedid e Miranda negam acusação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.