São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SP usa banco de doador em transplante de medula

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A estudante Elisabete, 11, moradora de uma cidade do interior, procurava alguém que lhe doasse uma medula óssea. Elisabete (o nome é fictício) sofria de anemia de Fanconi, um tipo grave de anemia. Sem um transplante, ela morreria.
A dona-de-casa Juliana (nome é fictício), moradora no litoral paulista, estava disposta a doar uma medula. Juliana não conhece Elisabete, mas o Cadastro de Doador de Medula Óssea da Fundação Pró-Sangue Hemocentro descobriu que as duas tinham a mesma bagagem genética.
Graças a esse encontro raro, Elisabete se transformou na primeira paciente de transplante a receber uma medula óssea de doador brasileiro não-relacionado.
As chances de encontrar duas pessoas com a mesma bagagem genética fora da família é de cerca de 1 para 50 mil.
"Entre irmãos, existem 30% de chances de se achar pessoas compatíveis", diz o médico Frederico Dulley, chefe da equipe multidisciplinar de transplante de medula óssea do Hospital das Clínicas e da Fundação Hemocentro.
Elisabete tem um único irmão, mas não deu certo. Foi salva pelo Banco de Medula Óssea, um cadastro que registra as características dos candidatos a doadores e que foi fundado em 92.
O transplante de Elisabete foi feito 55 dias atrás. Ontem ela esteve no ambulatório da fundação para ser medicada, como vem fazendo todos os dias.
Seu rosto ainda está inchado pela medicação à base de corticóide, mas os médicos consideram seu estado muito bom. Mais dois meses e ela poderá retomar todas as suas atividades.
"Desde os 3 anos de idade ela vinha sofrendo com essa anemia", diz a mãe, R.M.M.F., 44, cabeleireira e manicure. A doença vinha paralisando a atividade da medula óssea, o tutano que fica no interior dos ossos e que produz todos os elementos do sangue.
Dois anos atrás Elisabete teve de parar de andar de bicicleta e passou a se cansar rapidamente. Nos últimos meses antes do transplante, não conseguia mais caminhar os cem metros que separam sua casa da escola.
"A gente carregava ela", diz a mãe. Elisabete ia tão bem que passou para a sexta série assim mesmo.
Para o Natal, ela já tem um presente garantido da mãe: um par de patins que sempre quis ter, mas nunca conseguiu usar.

Texto Anterior: Diminui mão-de-obra infantil em Ribeirão
Próximo Texto: Cadastro tem 3.000 doadores
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.