São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995 |
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Ajax é campeão, mas Grêmio é vencedor
ALBERTO HELENA JR.
O Grêmio, porém, desde o início, trouxe o jogo para o seu campo: o emocional, quebrando a concentração do Ajax, sua principal arma. Foram poucos os instantes em que o Ajax foi aquele time rápido, envolvente, agressivo, contundente que foi deixando pelo caminho, humilhados, todos os adversários mais ilustres nestas duas últimas temporadas. Ao contrário: tenso, preocupadíssimo em evitar os mortíferos contragolpes do Grêmio, foi mais extremoso com sua defesa do que ousado no ataque. Teve o domínio da bola durante quase toda a partida, mas quase nunca soube o que fazer. Aliás, o técnico Van Gaal, para minha surpresa, fez duas substituições, em momentos críticos da partida, que abalaram seu conceito de fino estrategista. Com um jogador a mais, sacou o ponta Overmars, o mais habilidoso de seus atacantes, para a entrada do centroavante Kanu. Ora, nessas circunstâncias, a lógica aponta para o óbvio: contra um time fechadinho como o Grêmio, jogando heroicamente na defesa com um jogador a menos, nada melhor do que manter um extrema como Overmars em campo. Kanu, sim, para o cabeceio e a preparação da tabela com Kluivert. Mas, no lugar de Litmanem, que, a partir do gol feito perdido, abateu-se e passou a zanzar sem sentido no campo. Assim, o Ajax perdeu o sentido de profundidade pela esquerda, despejando mel na sopa do Grêmio, já que nem Bogarde, nem Davids chegavam à linha de fundo com proficiência. Van Gaal, mais tarde, detectou a inoperância de Litmanem, e, aí poderia consertar o estrago feito anteriormente, metendo em seu lugar Muzampa, um crioulo veloz, canhoto, habilidoso e agressivo. Mas, não: optou pelo jovem, fogoso, mas limitado meia Reuser. Assim, o Grêmio resistiu bravamente, e ainda teve lá suas chances, com Jardel, que foi até onde suas precárias condições físicas permitiram, o que conferiu ao time brasileiro o verdadeiro perfil de um campeão. Pelo menos, um time com alma de campeão. Mesmo porque o Ajax que levantou a taça, no jogo de ontem, foi o anti-Ajax, diante de um espelho tricolor. Muita gente boa advertiu sobre o excesso de encômios dirigidos ao Ajax por parte da imprensa, na qual me incluo, claro. Afinal, argumentam, o Campeonato Holandês é um cemitério de galinhas. Certo, até concordo. Mas, para chegar a Tóquio, o Ajax teve de matar pelo caminho alguns leões da Europa, como, por exemplo, o Milan e o Bayern de Munique, abatido por 5 a 2, fora os gols perdidos e o baile. É um timaço, único no seu estilo, que, ontem, foi vampirizado pelo espírito guerreiro dos Pampas. Isso, sim. Texto Anterior: Túlio busca novo recorde Próximo Texto: Vale Tudo Índice |
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