São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995![]() |
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'Hoje há muito marketing e pouca música'
MAURICIO STYCER
Folha - Por que, na sua opinião, entre as centenas de bandas lançadas em 95, o Supergrass foi a que fez mais sucesso? Danny Goffey - Muitas bandas são promovidas demais, mas não têm substância alguma. Achamos mais legal tocar do que ficar falando ou fazendo pose. Passamos mais de um ano tocando antes de estourar. E temos algumas boas músicas que nos ajudaram. Mickey Quinn - Estamos mostrando ser possível sobreviver só com música, sem ter uma atitude. Nossas letras são ambíguas, as pessoas podem entender do jeito que quiserem, não obrigamos ninguém a pensar como a gente, nem sabemos o que vamos fazer amanhã, ou programamos como vamos agir na semana que vem. Folha - O segredo do sucesso do Supergrass é o alto astral? Danny - Não sou contra músicas depressivas, mas há anos ninguém fazia alguma coisa mais para cima. Sentíamos falta disso quando começamos a compor. Folha - O otimismo do grupo seria, então, uma espécie de atitude estudada, planejada? Danny - Não temos razões para ficarmos deprimidos. A banda está fazendo sucesso, está tudo dando certo. Por que ficar deprimido? Folha - A atitude deprimida de bandas que fazem sucesso é só uma questão de marketing? Danny - Nem sempre. Os caras de algumas bandas são deprimidos de verdade. Folha - Gaz, porque você não gosta quando dizem que Supergrass é uma banda alto astral? Gaz Coombes - Porque esse disco fala de um pequeno período de nossas vidas, seis meses, que passamos juntos compondo. Você não pode dizer que somos assim. Folha - Mas também não dá para dizer, conversando com vocês, que o próximo disco da banda vai ser a maior deprê. Gaz - Sou um cara feliz. Às vezes, fico de baixo astral, mas tomo uma aspirina e passa. Folha - É verdade que vocês chegaram a pensar em se chamar Theodor Supergrass? Danny - Fizemos um show como Theodor Supergrass. A idéia era nunca mostrar a nossa cara. Theodor ia ser um personagem, que apareceria no nosso lugar, nas capas dos discos, nos clipes etc. Acho que tínhamos tomado muito ácido quando tivemos essa idéia. Folha - Por que vocês decidiram ficar com o nome Supergrass? Danny - Na gíria inglesa, quer dizer informante da polícia, além de supermaconha. Escolhemos esse nome ao acaso. Tínhamos mais de 20 opções. Também pensamos em Shirley and the Kids, em Acidental Babies e Ring Peirce. Folha - A canção "Caught By the Fuzz" é uma experiência pessoal de alguém da banda? Gaz - É. A música conta o que aconteceu comigo quando eu tinha 15 anos e fui pego pela polícia com um pouco de droga. Foi uma péssima experiência. Folha - Vocês defendem a legalização da maconha? Gaz - Se a maconha fosse legalizada, ia ter muito imposto e seria muito caro. Seria uma nova forma de as grandes empresas ganharem muito dinheiro. E iria também acabar com o romantismo da coisa. Folha - O que você acha da inclusão do Supergrass no rótulo "Britpop", para designar o renascimento do pop inglês? Gaz - Isso é uma invenção da imprensa. A música na Inglaterra hoje não está tão boa quanto há cinco anos. Hoje há muito marketing e pose e pouca música. Não somos parecidos com quase nada do que está sendo chamado de "Britpop. Não vejo semelhanças com Blur e Oasis. Talvez porque não estejamos nas colunas de fofocas. Mickey - Somos todos ingleses, tomos temos bandas. Logo, devemos todos ser pop britânicos. Folha - Antes de você chegar, Gaz e Danny tinham um grupo chamado The Jennifers, que era um fracasso absoluto. O que você trouxe para a banda? Mickey - Nada mais do que um terceiro par de ouvidos. The Jennifers não faziam sucesso porque a imprensa era cega. Folha - O que você acha de tocar para 40 mil pessoas no Brasil? Mickey - Já tocamos num festival na Inglaterra para 20 mil pessoas. Não faz a menor diferença tocar para 40 mil: você não vê nada do mesmo jeito. O jornalista MAURICIO STYCER viajou a Oxford a convite da produção do Hollywood Rock Texto Anterior: Derrida fala sobre história da mentira Próximo Texto: Disco revela simplicidade Índice |
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