São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Moda vai atrás do glamour das telas

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Já se disse à exaustão que as supermodels são as estrelas de cinema do nosso tempo. Um tempo em que a mídia precisava de um glamour hollywoodiano e o que tínhamos eram Sharon Stone e Madonna. Lindas, impecavelmente fotografadas e bem-vestidas por seus amigos estilistas, as top models entraram, a partir dos anos 80, no luxuoso imaginário da indústria ocidental de mitos.
Assim, foi essa necessidade que, no final daquela década, inspirou o "stylist" (ou criador de imagens) Georges Marciano a encontrar na alemã Claudia Schiffer a semelhança diante de Brigitte Bardot para a campanha dos jeans Guess?.
E pronto.
Com essa analogia trabalhada pela fotógrafa Ellen von Unwerth, Schiffer vira La Schiffer e faz milhões de dólares em todo o mundo. De quebra, entram na moda de novo o ar desprotegido e sexy da estrela, mais seu cabelo despenteado e a maquiagem com os olhos circundados por "kajal" preto.
O outro impacto forte do mix moda-cinema veio um ano atrás, nos desfiles das coleções internacionais de outono-inverno. A tendência do momento era o glamour do retrô. Ou seja: cortes, proporções e allure inspirados na moda dos anos 40 e 50. Para fazer as mulheres de hoje usarem essas informações de ontem -com tecidos e materiais atuais- o planeta fashion precisou acionar Hollywood, suas áureas produções e suas mulheres maravilhosas.
O norte-americano Ralph Lauren fala claro e evoca uma cerimônia de premiação de Oscar para encerrar seu desfile, com uma sequência de vestidos de lamê dourado, com as modelos segurando réplicas das estatuetas. O inglês John Galliano lembra divas do pós-guerra como Maureen O'Hara e Ava Gardner, enquanto Valentino e seu "hair-stylist" Serge Normant trazem de volta Veronika Lake e seu clássico penteado com as pontas viradas para dentro.
Na mesma temporada, o italiano Gianni Versace põe a seu serviço a imagem de Marilyn Monroe, Bette Davis e Rita Hyworth.
Depois disso, as Bond Girls dos filmes de 007 voltaram para influenciar o meio de moda, com reedições do modelão em editoriais de moda e coleções das marcas Blumarine e Prada. Mas foi Calvin Klein -um dos principais formadores de opinião fashion- quem saiu mesmo na frente, ao fazer o mundo se lembrar do estilo e da elegância de Audrey Hepburn, morta em janeiro de 93. É ela a coqueluche do momento entre os "trendóides" (os que detonam os "trends", as tendências). Toda revista que se preze já fez ou está produzindo um editorial com modelos como clones da atriz nos filmes "Sabrina" (54) e "Bonequinha de Luxo" (60).
Foi em "Sabrina" que pela primeira vez o estilista francês Hubert de Givenchy vestiu Hepburn (outras sete parcerias no cinema viriam a seguir). A idéia foi da própria atriz, fascinada por alta-costura, que viu no figurino do filme sua primeira oportunidade de possuir uma roupa "de grife". Depois de "Sabrina", Hepburn tornou-se a atriz mais bem-paga de Hollywood na época, com um cachê de US$ 15 mil. Hoje, é a imagem que importa na moda.

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