São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Nestlé acusa preços do Wal-Mart

DA REPORTAGEM LOCAL

Roland Meyes, presidente da Nestlé, acusou ontem a rede de lojas norte-americana Wal-Mart -recém-chegada ao Brasil- de vender produtos da Nestlé com preços até 40% mais baixos do que os da sua tabela de preços.
"Isso é antiético. Está causando grande tumulto no mercado", disse Meyes. Segundo ele, os clientes da Nestlé querem vender pelo mesmo preço que o Wal-Mart.
"Está difícil convencê-los de que quem cortou preço foi o Wal-Mart. Foram eles que decidiram vender com prejuízo por certo período de tempo."
O Wal-Mart, sem se referir à acusação da Nestlé, distribuiu nota oficial em que afirma que, "ao oferecer preços baixos para o consumidor todos os dias, está simplesmente sendo competitiva em relação a outros varejistas brasileiros".
"Para continuar competitiva, temos um programa de eficiência que nos permite repassar para os clientes a economia adicional aí obtida, enquanto podemos realizar um lucro razoável", acrescenta a nota.
Ontem, a Nestlé procurou o Wal-Mart. "Eles não vão poder vender eternamente com preços abaixo do custo. Começamos hoje (ontem) uma fase de negociação. Fomos lá dizer que não estamos nada contentes com o que está acontecendo", relatou Meyes.
Na sua análise, a Nestlé não tem muito o que fazer nessa situação. "Não podemos parar de vender porque isso é crime. Achamos que caberia ao varejo tentar se unir para que os preços do Wal-Mart voltem a ser os de mercado."
Firmino Rodrigues Alves, presidente em exercício da Apas (Associação Paulista dos Supermercados), disse que a associação não vai fazer nada contra o Wal-Mart.
"Se alguém for fazer alguma coisa tem de ser a indústria, que é muito mais forte do que nós, supermercadistas. Ela pode até limitar o volume de vendas. O que não pode é vender só para um supermercadista."
'Política agressiva'
O presidente da Abras (Associação Brasileira dos Supermercados), Paulo Affonso Feijó, disse não acreditar que a rede Wal-Mart esteja praticando "underselling" (venda de produtos abaixo do custo).
"Quando uma empresa inaugura uma loja, é natural uma política de descontos mais agressiva."
A entrada do Wal-Mart em São Paulo mexeu até mesmo no negócio da sua sócia, a Lojas Americanas, que detém 40% do seu capital.
Os preços dos produtos vendidos nas unidades das Lojas Americanas de Osasco (SP) e Santo André (SP) estão no mesmo nível das duas lojas do Wal-Mart inauguradas na semana passada.
"O conflito entre as unidades da Lojas Americanas próximas da Wal-Mart é inevitável, mas será gerenciado", afirmou José Paulo Amaral, diretor-superintendente da Lojas Americanas e diretor da Wal-Mart Brasil.
Amaral disse não ser a pessoa qualificada para responder à observação do presidente da Nestlé. "Só responderei a ele pessoalmente", afirmou Amaral.
Falando pelas Lojas Americanas, no entanto, lembrou que o mercado é livre e que não há nada de antiético.

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