São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Quincy Jones reúne constelação musical

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem mais poderia reunir em um mesmo disco personalidades musicais tão diferentes como o "bluesman" Ray Charles, o roqueiro Bono, o jazzista Herbie Hancock, a cantora latina Gloria Estefan e o rapper Heavy D?
O responsável pelo encontro dessas estrelas com outros 78 astros da música é Quincy Jones, o produtor e compositor que, entre inúmeras façanhas, divide com Michael Jackson a autoria do álbum mais vendido de todos os tempos ("Thriller"; mais de 40 milhões de cópias).
Há seis anos sem lançar um disco inédito, Quincy, 62, repete com relativa moderação a fórmula "all star" do fenomenal "Back on the Block" (de 1989). Para aquele álbum, o megaprodutor norte-americano contou com cerca de 250 músicos e vocalistas.
Mais uma vez, Quincy escolheu o formato de uma grande suíte. Com as faixas do disco interligadas, quer demonstrar que gêneros como o rhythm and blues, o hip-hop, o funk, o gospel e o jazz formam um todo único: a secular música negra norte-americana.
"Q's Jook Joint" (A Espelunca de Quincy, em tradução aproximada) começa com uma colagem de vozes, que inclui não só boa parte do superelenco, mas celebridades como o ator Marlon Brando e os jazzistas Miles Davis e Dizzy Gillespie (estes dois já mortos).
É a introdução para um vibrante arranjo da clássica "Let the Good Times Roll" (sucesso do saxofonista Louis Jordan), revisitada por Stevie Wonder, Bono e Ray Charles, na companhia de uma afiadíssima "big band".
O molho "swing" continua em "Cool Joe, Mean Joe". Nela, Quincy fundiu "Killer Joe", o clássico jazzístico de Benny Golson, com o rap de Queen Latifah, incluindo improvisos de Joshua Redman e Hubert Laws.
Mais adiante, a dançante "Rock With You" funde o rap de Heavy D com o r&b da adolescente Brandy -a nova descoberta vocal de Quincy, conhecido revelador de talentos. As fusões dançantes continuam em "Stomp", que mistura o o funk da cantora Chaka Khan com o rap de Shaquile O'Neal, Coolio, Yo-Yo e Luniz.
Entre outras surpresas do álbum, há também o roqueiro Phil Collins cantando com romantismo a jazzística "Do Nothin' Till You Hear from Me" (de Duke Ellington). Ou a salseira Gloria Estefan, alternando vocais em castelhano e inglês, na dançante "Is It Love that We're Missin' ".
Apesar de seu elenco milionário e dos arranjos criativos, "Q's Jook Joint" dificilmente causará o mesmo impacto de "Back on the Block" -álbum pioneiro nas misturas do jazz com o rap.
A fusão que ainda era novidade no final da década passada, tem sido largamente explorada tanto por rappers como pelos jazzistas.
Enquanto seu álbum anterior apontava para o futuro, neste Quincy olha para o presente com uma razoável dose de nostalgia.
Não é à toa que o disco termina com "At the End of the Day (Grace)", balada que Quincy escreveu para tema das Olimpíadas de 1984, revisitada pelo vozeirão de Barry White. Mr. Q' arriscou menos desta vez, mas continua fazendo música de primeira.

Disco: Q's Jook Joint
Autor: Quincy Jones
Lançamento: Qwest/Warner
Quanto: R$ 22,00 (o CD importado, em média)

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