São Paulo, sexta-feira, 1 de dezembro de 1995
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Crise no Haiti ameaça sucessos americanos

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Bill Clinton, tinha planejado incluir o Haiti como exemplo em seu discurso de segunda-feira sobre o envio de tropas à Bósnia.
Mas uma série de problemas no pequeno país do Caribe ocupado por forças dos EUA há 14 meses fez com que ele desistisse da idéia.
O Haiti ainda está longe de poder ser usado como modelo de intervenção militar norte-americana bem-sucedida.
A economia do país continua em caos, a insegurança pública se mantém, milhares de refugiados voltaram a ser apreendidos no Caribe em embarcações toscas e nem mesmo a democracia que a ocupação restaurou está segura.
Em princípio, no dia 17 os haitianos vão escolher em eleição livre o sucessor do presidente Jean-Bertrand Aristide, reconduzido ao poder pelas tropas dos EUA.
Mas Aristide, um ex-sacerdote de convicções socialistas, vem ameaçando permanecer como presidente por mais três anos, período em que ficou no exílio depois de derrubado por golpe militar.
A saída de Aristide em 7 de fevereiro próximo era uma das condições básicas do acordo que possibilitou a intervenção. Mas as relações entre ele e os EUA têm se deteriorado a cada dia.
As coisas pioraram depois que em 7 de novembro um primo e aliado de Aristide foi assassinado. No enterro de Jean-Hubert Feuille, o presidente fez discurso incendiário, que desencadeou onda de violência no país.
Ele se queixou de que os EUA não tinham completado o desarmamento dos grupos paramilitares que se opõem a ele nem entregado a seu governo 150 mil páginas de documentos desses grupos apreendidas nos últimos 14 meses.
Os EUA, por seu lado, estão descontentes com Aristide desde que ele deixou de implementar plano de privatização de empresas estatais, o que levou à renúncia do primeiro-ministro Smarck Michel.
Em represália, os EUA suspenderam ajuda de US$ 4,6 milhões e ameaçam fazer o mesmo com outros US$ 110 milhões, equivalentes a 35% do Orçamento do país.
O governo norte-americano também faz planos para manter soldados no Haiti depois de 7 de fevereiro, ao contrário do que havia sido planejado antes.
Há no Haiti agora 6.000 soldados da ONU, 2.500 deles dos Estados Unidos, além de 800 policiais de outros países, inclusive norte-americanos.
Apenas um soldado dos EUA morreu em ação no Haiti nesses 14 meses, um dos motivos por que Clinton desejava usar a ocupação haitiana no seu discurso para convencer os norte-americanos a apoiarem a intervenção na Bósnia.

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