São Paulo, sexta-feira, 1 de dezembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Chove, governo ladrão
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - O presidente Fernando Henrique Cardoso já foi chamado de tudo ou quase tudo pelos seus críticos mais ferozes. Mas, ao que me lembre, nem mesmo eles ousaram dizer que o presidente toma dinheiro. Ao contrário, sua honradez pessoal tem sido escrupulosamente preservada do embate político, inevitavelmente cruento.Temo que esse, digamos, ativo presidencial corra risco pelo imbróglio formidável em que o governo está se entalando. Tem-se de um lado o caso do "grampo" e seus desdobramentos (as suspeitas sobre o Sivam, sobre tráfico de influência etc). De outro, tem-se o favorecimento aos bancos, em particular ao Nacional, muito bem descrito e tratado por Josias de Souza na sua coluna de anteontem. A suspeita, nesse caso, é mais complicada porque o Nacional, como se sabe, tem uma parente do presidente entre seus diretores. No passo em que caminham as coisas, pode-se cair na velha piadinha do elefante que desandou a correr ao simples grito de que havia caçadores de macacos na floresta. Aí, um macaco perguntou por que o elefante corria se os caçados eram os macacos. "Até provar que sou elefante pode ser tarde", retrucou o precavido elefante. O presidente corre o risco de ter de provar que foi ou está sendo, nesses episódios recentes, um elefante em loja de louças e não um macaco passível de ser abatido por suspeitas. Ainda mais que estas penetram com formidável velocidade na ausência de informações e da transparência de que FHC tanto se gabou como característica de seu governo. As versões oficiais sobre o episódio do "grampo" são um caso calamitoso da mais absoluta ausência de transparência, coerência, lógica e qualquer outro qualificativo que se queira aplicar. O presidente parece desatento ou desinformado sobre os humores da sociedade que governa. Para a maioria, ao contrário do que supõe FHC, todo governante é suspeito até prova em contrário. Há muito mais pessoas dispostas ao humor napolitano -o de dizer, à primeira chuva, "piove, governo ladro"- do que a dar o benefício da dúvida. E, nesse ritmo, a chuva que está caindo sobre o governo pode se tornar torrencial. Texto Anterior: Raposa no galinheiro Próximo Texto: Privilégios mantidos Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |