São Paulo, sábado, 2 de dezembro de 1995 |
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Desilusão, niilismo e cigarros
CÁSSIO STARLING CARLOS
E esta é o que há de mais perene da escola filosófica liderada pelo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980). O lema conceitual de Sartre era "a existência precede a essência". Isto quer dizer: o homem não possui uma essência eterna e imutável, ele é uma criatura que se constrói na história. As eventuais mudanças de rumo da história estão, portanto, nas suas mãos. Mas não foi a consciência do conceito que fez a popularidade do existencialismo. Ela derivou do momento histórico que surgiu quando à ressaca da Liberação se misturou a desilusão frente aos pecados da guerra. Diante da barbárie recente o espírito existencialista reagiu destilando niilismo. A cantora Juliette Greco e o escritor Boris Vian lideravam o mundinho que se reunia nos cafés de Saint-Germain-des-Près. O hype eram roupas pretas de gola rulê, cabelos longos e descuidados, unhas amareladas de sucessivos "Gauloises" e um infinito tédio. Uma Paris brumosa dava o clima. Nem mesmo sob a luz da Riviera tal espírito se dissipava. É por lá que erra a heroína do romance "Bonjour Tristesse", de Françoise Sagan, o subproduto predileto da geração. O título já diz tudo. Para quem todos estes nomes nada significam talvez sirva lembrar Beth Gibbons, vocalista do Portishead, ou a cantora Vanessa Daou, versões musicais recentes da melancolia. Lá pelos anos 80 os juveniilistas (ou "darks", como ficaram conhecidos por aqui) já evocaram estes predecessores. O problema é que eles acreditavam em si mesmos. Agora não. Para a reciclagem bastam o look e o glamour. Texto Anterior: Caetano exibe a face mais bela da nostalgia Próximo Texto: Rio encerra 1º congresso sobre moda Índice |
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