São Paulo, sábado, 2 de dezembro de 1995![]() |
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Tristes trópicos Há quem compare a economia à meteorologia, mas em matéria de imprevisibilidade a dinâmica política ainda parece reservar mais surpresas. É o que se percebe agora em Brasília: o que parecia um céu desanuviado transformou-se rápida e inesperadamente num horizonte carregado de incertezas. Há dois fatores de instabilidade. Um deles nasceu com o "grampo" no telefone do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, então chefe do Cerimonial da Presidência, e atingiu o projeto Sivam. O outro é a ajuda ainda polêmica que o governo vem oferecendo ao sistema financeiro, em especial a permissão para que se utilizem as chamadas "moedas podres" no resgate de instituições em apuros. À margem das análises técnicas sobre esse caso -já feita em outros comentários desta Folha-, não há como ignorar o potencial desgaste político associado a essa estratégia. Que o governo não pode e não deve deixar instalar-se uma crise no sistema, é óbvio. Daí, no entanto, a abrir uma torneira por trás da qual se escondem assustadores R$ 51 bilhões (quase 10% de todo o PIB), para citar apenas os títulos podres do FCVS, vai uma distância considerável e de difícil aceitação pela opinião pública. Já se sabe que medidas de salvaguarda do sistema financeiro são indispensáveis e, como em outros países em muitas oportunidades, é efetivamente com recursos públicos que se garante um bem público: a estabilidade das instituições e a liquidez dos depósitos. Mas ainda falta transparência quanto aos custos para o Tesouro da operação de resgate de bancos. No caso Sivam, ou se desagradam a Aeronáutica e o governo norte-americano, caso haja uma interrupção no contrato ou mesmo o reinício da licitação, ou se atingirão setores do Congresso e da opinião pública, se o projeto continuar do jeito que está. A política e a meteorologia têm pretensões científicas, mas se aproximam quase sempre da arte ou da intuição. Como em outras vezes, pode novamente tratar-se apenas de mais uma dessas tempestades dos trópicos que vêm, fazem algum estrago e se vão. Resta saber quantos telhados serão atingidos. Próximo Texto: Estados na linha Índice |
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