São Paulo, sábado, 2 de dezembro de 1995
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Segundas núpcias

A Argentina vive atualmente o que parece ser a lua-de-mel de um segundo casamento entre o presidente da República, Carlos Menem, com o mesmo noivo, o ministro da Economia, Domingo Cavallo.
Nas últimas duas semanas os mercados internacionais reagiram com euforia ao reatamento dos dois e aos anúncios de uma segunda ofensiva nas áreas da privatização, da arrecadação e da eliminação de "abusos adquiridos".
A moratória fiscal teve resultados que superaram as expectativas, ultrapassando a barreira dos US$ 2 bilhões esperados. Esses impostos que antes eram sonegados serão arrecadados apenas ao longo dos próximos anos, sem juros. Mas, por conta da ofensiva, o governo argentino conseguiu levantar empréstimos nos bancos, fechando o ano com as contas equilibradas.
Os observadores mais céticos dirão que o governo argentino nada mais faz senão endividar-se mais e mais, que resta já muito pouco para privatizar e que o desemprego, ultrapassando os 20% da população economicamente ativa, aponta para uma estagnação da economia que terá efeitos desastrosos em termos de arrecadação de impostos.
Com o plano de conversibilidade (o Plano Cavallo), a economia argentina efetivamente transformou-se num organismo altamente dependente dos bancos internacionais. Trata-se de uma fragilidade que sem dúvida impõe custos e limites à política econômica. Ao mesmo tempo, entretanto, o fato concreto mais recente é que a confiança dos credores externos está voltando com grande vigor, tanto na Argentina quanto no México, que também passa hoje por fortes ajustes econômicos.
O Brasil, gigante semi-adormecido, corre novamente o risco de tornar-se o patinho feio que demora muito para se transformar em cisne.

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