São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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Jerusalém comemora 3.000 anos

HELIO GUROVITZ
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Ao assumir o cargo que era ocupado por Yitzhak Rabin, o premiê israelense, Shimon Peres, prometeu manter Jerusalém como cidade unida e capital de Israel.
Mas, mesmo unida politicamente sob autoridade israelense, a cidade é considerada capital por dois povos: judeus e palestinos.
Último item na pauta de negociações entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Jerusalém reúne locais sagrados do judaísmo, cristianismo e islamismo numa área com cerca de 2 km²: a Cidade Velha.
Para judeus, Jerusalém é o local onde o rei David estabeleceu há 3.000 anos a capital de seu reino e onde foram construídos os dois templos sagrados, dos quais só resta o pedaço de parede conhecido como Muro das Lamentações.
Neste ano e no próximo são comemorados os 3.000 anos da conquista da cidade por David.
Para cristãos, foi lá que Jesus Cristo pregou, foi julgado, crucificado, sepultado e depois ressuscitou. É onde estão a Via Dolorosa e a Basílica do Santo Sepulcro.
Para muçulmanos, foi o local de onde o profeta Maomé subiu aos céus, depois de ser trazido por Deus de Meca. Lá ficam a Cúpula da Rocha e a mesquita de Al Aqsa.
Politicamente, a Cidade Velha e os locais sagrados são considerados por Israel como parte da sua capital indivisível. Mas também estão nas terras reivindicadas como capital pelos palestinos.
Especialistas israelenses e palestinos ouvidos pela Folha consideram que a paz entre Israel e OLP deve solucionar a disputa.
"Que problema? Não há problema", diz espantado o palestino Khalil Tufakdji, diretor da Sociedade de Estudos Árabes, arrumando mapas e estudos de Jerusalém.
Atrás dele, cartas da Palestina e de Jerusalém, com linhas traçadas, dividindo o terreno. "Você quer mapas de Jerusalém, tome", diz o palestino. E estende meia dúzia de papéis que retira da gaveta.
Sobre os mapas, é possível ver a expansão da cidade de Jerusalém desde 1967, quando o setor leste foi tomado por Israel da Jordânia.
Israel construiu bairros judaicos e anexou aldeias árabes que antes eram parte da Cisjordânia, triplicando a área total da capital.
Bairros inteiros, como Gilo (30.200 habitantes), Ramot (38.700) ou Neve Yaacov e Pisgat Zeev (35.200 ambos), foram construídos por Israel. Segundo a entidade de direitos humanos israelense B'Tselem, foram erguidas na cidade 64.880 casas para judeus e 8.800 para palestinos desde 1967.
A OLP reivindica o setor oriental para estabelecer a capital do Estado palestino. Nesse setor fica a Orient House, sede política dos palestinos de Jerusalém que abriga a Sociedade de Estudos Árabes.
No lado oriental, residem quase todos os palestinos. Mas a população palestina total da cidade, 161 mil em 1993, apenas iguala os judeus de Jerusalém oriental, que Tufakdji avalia hoje em 165 mil.
"Para esses colonos" -palavra que usa para se referir aos moradores judeus do setor leste- "há duas soluções", afirma Tufakdji.
A primeira seria, no futuro Estado palestino, dar a eles cidadania palestina. "Assim como há árabes que têm cidadania israelense". A segunda seria considerá-los israelenses que moram em território palestino, mas votam em Israel.
Em ambos os casos, a administração da cidade ficaria a cargo de uma autoridade mista. "É impossível dividir a cidade ao meio."
Um exemplo da impossibilidade é o esgoto, que corre da Jerusalém ocidental para a oriental. Eletricidade e água -principalmente- têm problemas semelhantes.

O jornalista HELIO GUROVITZ viajou a convite da fábrica de componentes mecânicos Iscar.

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sobre Jerusalém às páginas 1-23 a 1-26

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