São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Histeria dos fãs precede os shows

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

A histeria dos fãs precede a chegada dos Mamonas Assassinas em três horas, para um show no colégio Bonfiglioli (no Jardim Bonfiglioli, zona Oeste de São Paulo), no último dia 26.
Crianças, adolescentes e pais formam o público típico de um show do Mamonas. A presença ostensiva da polícia é a surpresa.
As crianças são revistadas por precaução. Uma delas, com 5 anos, está vestida como um presidiário, imitando uma das roupas da banda. É a primeira de muitas situações surreais do show.
O reforço na segurança, diz a equipe do Mamonas, visa evitar cenas como as da passagem da banda por Curitiba. A histeria começou no aeroporto e os Mamonas tiveram que ser escoltados para evitar que crianças fossem atropeladas pelo carro da banda.
"Enche de crianças em volta, batendo no vidro do carro, gritando na porta do hotel, correndo no aeroporto", conta o vocalista Dinho, como uma vítima da Beatlemania. Ou Menudomania, tendo em vista a pouca idade dos fãs.
Alguns pais se revoltam com a música. No colégio Bonfiglioli, um pai chegou a fazer cena na frente dos portões, exigindo que sua filha de 15 anos saísse antes do show. "Pago caro o colégio para minha filha perder tempo com essas porcarias", disse, irritado, sem querer se identificar.
Enquanto isso, uma banquinha com camisetas (R$ 20, cada) e bonés (R$ 15, cada) do Mamonas começa a faturar. Os vendedores, que trabalham para o empresário do grupo, vendem cerca de 100 camisetas por show.
Os Mamonas chegaram em São Paulo às 3h da manhã, vindos de São Roque. Depois do show no colégio Bonfiglioli, viajaram direto para Campinas, onde iriam tocar à noite.
São entre seis e oito shows por semana, diz Benjamin, que se identifica como representante administrativo do grupo. Às vezes, chegam a ser três shows por dia.
Cada show rende R$ 40 mil para os Mamonas. No início da turnê, o preço era R$ 9 mil. As datas para apresentações já estão tomadas até o fim de março.
Para mostrar como estão cansados, os Mamonas resolveram tocar de pijamas.
À beira do palco, o que mais se ouve é a histeria dos fãs, anunciando que os Menudos brasileiros já iam chegar. No minuto que precede o show, a banda se abraça, imitando uma concentração de futebol, e solta seu grito de guerra: "Mamona-na-na-nas!".
O show é uma festa infantil. As irmãs Carolina e Aline, de 6 anos, e Talita, 5, dizem que preferem Mamonas à Xuxa. A mãe das meninas, Marivalda Parada, não se importa com as letras cheias de palavrões. "Elas sabem as letras inteirinhas", diz, "mas não sabem o que significa e nem perguntam".
Segundo Elaine, 16, que foi até o camarim, depois do show, "os palavrões é que é o legal".
Os Mamonas dão autógrafos a todos os que furam o bloqueio de segurança. Mas estão ressabiados com as canetas, desde que duas mil pessoas apareceram para uma tarde de autógrafos em Jundiaí.
Depois de tirar uma foto com a banda, Elaine faz sua avaliação: "Vai chegar uma hora em que Mamonas não vai ter mais graça, como aconteceu com o Falcão. Ele também teve o seu momento, mas passou".

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