São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Começa hoje na Cinemateca ciclo de filmes de Marcel Carné

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Duas semanas depois de receber o Felix pela carreira da Academia Européia de Cinema (EFA), o diretor francês Marcel Carné, 86, merece a partir de hoje uma homenagem da Sala Cinemateca. Até a próxima sexta serão exibidos oito de seus principais filmes, legendados em português ou espanhol. O evento é co-produzido pelo Consulado da França.
A mostra empresta seu título, "O Realismo Poético de Marcel Carné", da expressão que se colou ao período áureo do cineasta. A etiqueta não serve para o conjunto dos títulos selecionados, que representam a obra de Carné.
Talvez com os três filmes programados para hoje o selo "realismo poético" , revisto, mantenha alguma sintonia. "Família Exótica" (Drôle de Drame, 1937, às 18h15), "Cais das Sombras" (Le Quai des Brumes, 1938, às 22h) e "Trágico Amanhecer" (Le Jour Se Leve, 1939, às 20h15) são melodramas policiais contemporâneos, desenvolvidos em parceria com o roteirista e poeta Jacques Prévert, mas também com os protagonistas Michel Simon, em "Família", e Jean Gabin, para os dois outros.
O fato de a dupla Carné-Prévert ter emplacado seis títulos equivocadamente forjou uma definição ("realismo poético") para trabalhos distintos. O crítico e professor da ECA-USP Jean-Claude Bernardet acertou ao perceber "o mesmo esquema: dois jovens se amam, mas são combatidos por um representante da sociedade e pelo diabo personificado; um dos dois morre e o outro vive numa eterna lembrança ou os dois morrem e seu amor se realiza além da vida".
Esse esquema serve para os dramas urbanos de hoje (o "realismo poético") e para a dupla de filmes melofantásticos ("Os Visitantes da Noite", de 42, "As Portas da Noite", de 46) e para a obra máxima da dupla, "O Boulevard do Crime" (Les Enfants du Paradis, 45). Neste impera a homenagem ao teatro, iconizado por Jean-Louis Barrault como o mímico Baptiste Dubureau.
Se Prevért soubera honrar o esquema bernardetiano já ao trabalhar com Jean Renoir no pré-carnesiano "O Crime do Senhor Lange" (1935), Carné revisitou sozinho a fórmula, como provam os dois últimos filmes. No lendário "Juliette ou A Chave dos Sonhos" (1950), um jovem reencontra o amor numa cidade desmemoriada. Já a versão de "Therese Raquin" de Zola, a força do amor acaba por catalizar um crime.
(AL)

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