São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995 |
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Giannotti pinta as paisagens de Murilo Mendes
MÔNICA MAIA
Várias vias levaram Giannotti à releitura colorida de templos e ruínas sicilianas combinando têmperas e vernizes. Este ano ele fez a tradução de 'Viagem à Sicília', os diários de viagem de J.W. Goethe à Sicília, em 1788, para a Folha. "Fiquei encantado com a descrição do templo de Agrigento. O lançamento das obras completas de Murilo Mendes no início do ano também foi um acaso curioso. Trazia a 'Siciliana', um pequeno livro de 1954 com uma grande força imagética", diz Giannoti. As telas investigam o mundo antigo. São articuladas com poesias de Mendes como "O Templo de Segesta", "Elegia de Taormina", "Meditação em Agrigento" e "As Ruínas de Selinunte". "Os templos têm arquitetura voltada para construção da luz. Criam espaços diferenciados, de grande refinamento. Nos levam a pensar a questão da tradição da arte. É preciso pensar a questão da cultura e da tradição com os olhos do moderno", diz. "As colunas em primeiro plano produzem o lugar da paisagem. Implicam em um dispositivo muito contemporâneo de pintar. É uma forma diferente em algo que poderia parecer paisagismo clássico", afirma o crítico Nelson Brissac Peixoto. Ele aponta uma relação de continuidade entre as novas paisagens italianas e as fachadas barrocas exibidas no MASP. Giannotti propõe uma arquitetura da cor, com a cor criando espaço. Ele privilegia também o artesanato da cor. "São várias pátinas, com têmpera e óleo, em áreas opacas e brilhantes. O verniz dá uma característica menos virtual às paisagens. A têmpera garante maior saturação da cor", diz Giannotti. Ele lembra que poucos artistas contemporâneos são bons coloristas. "O Anselm Kiefer é todo negro. A cor tem um componente poético inexprimível". Giannotti, com formação em Filosofia, é um esteta da cor. Traduziu "A Doutrina da Cor", de Goethe, em 1993. Ele produz agora cinco ensaios sobre o espaço da cor na pintura do século 20 para seu o doutorado. Seu último trabalho exposto no MASP, em 1993, foi saudado com "Giannótica: um âmbito", poema de Haroldo de Campos. Campos conheceu o trabalho de Giannotti através de Mira Schendel. "É um artista intelectual, com formação filosófica. Tem uma lado construtivista e um toque especial de sensibilidade cromática. Faço questão de ver este trabalho, não só porque gosto dele. Mas também porque escrevi muito sobre Murilo Mendes, estou esperando uma bonita fusão de sensibilidades", diz Campos. Exposição: Marco Gianotti Quando: De quarta a 31 de janeiro. De segunda a sexta, das 10h às 20h. Sábados das 10h às 14h Vernissage: Quarta às 20h Onde: Galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, Vila Madalena. Tel. 011/210-7390 Preços: de US$ 6.000 a US$ 7.000 Texto Anterior: Mamonas cantam medo da aldeia global Próximo Texto: Lina Kim faz individual Índice |
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