São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Filha de Pelé atua em peça em Nova York

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

A peça "Confort and Joy", do norte-americano Jeffrey Hatcher, que estreou na semana passada no circuito off-off-Broadway em Nova York tem um toque brasileiro.
O motivo: a participação da atriz Kely Cristina do Nascimento, 28. Pouca gente associa o nome à pessoa, mas Kely é a filha mais velha de Pelé.
Morando nos EUA desde 1975, Kely vive com a mãe, Rosemeri, e a irmã, Jeniffer, 17, num apartamento de quatro quartos no upper east side, em Manhattan.
Ela só decidiu ser atriz em 92, depois de ter se formado em design gráfico pela Parson's School of Design, uma das mais conceituadas de Nova York.
Em 1993, depois de passar um ano estudando artes cênicas com Lee Strasberg, ela montou com dois amigos a Walkabout Theater Company. "Confort and Joy" é a segunda peça da companhia.
Kely também fez ponta em dois longa metragens: "Malcom X" (dirigido por Spike Lee) e "Carlito's Way" (de Brian de Palma).
Na semana que vem, ela vai a Los Angeles participar da fase final de seleção para o filme em que Tom Hanks estreará como diretor.
Leia a seguir, os principais trechos da entrevista.
Folha - Quando você decidiu ser atriz?
Kely Nascimento - Em 92, estava trabalhando há seis meses num museu, mexendo com aquisição de obras. Gostava do que fazia, mas resolvi arriscar e fazer o curso de teatro de Lee Strasberg.
Folha - Havia antes uma vontade de ser atriz?
Kely - Claro! Só que eu não admitia para ninguém. Demorei em decidir porque queria ter diploma de uma profissão tradicional. Mostrar para as pessoas que eu conseguia ganhar dinheiro.
Folha - A demora foi só pela necessidade do diploma?
Kely - Não. Acho que eu tinha medo de fracassar, de descobrir que não era uma boa atriz.
Folha - E hoje, você se considera uma boa atriz?
Kely - Tenho muito que aprender, mas sinto que estou no caminho certo.
Folha - Como é seu relacionamento com Pelé?
Kely - Ótimo. Nos falamos por telefone uma vez por semana e ele vem nos visitar sempre que pode. Eu também vou ao Brasil pelo menos uma vez por ano.
Folha - O que ele acha de você ser atriz?
Kely - Ele veio assistir a minha estréia no ano passado e adorou. Dessa vez não deu porque ele está muito ocupado.
Folha - Pelé influenciou na decisão de ser atriz?
Kely - Meu pai me deu o exemplo de como conviver com a fama. Como manter a privacidade, apesar de todo o assédio. E isso fez eu perder medo do palco.
Folha - Você e Edinho (irmão mais velho, goleiro do Santos) escolheram profissões em que a imprensa está sempre de olho...
Kely - É. Acho que somos meio masoquistas. Ele principalmente, porque tem que aguentar as comparações com meu pai.
Folha - Você sente pressão em ter que ser bem sucedida?
Kely - Filhos de gente famosa sempre se queixam de terem que ser tão bons quanto os pais. Nosso caso é diferente. Porque o que Pelé fez ninguém vai conseguir superar.
Folha - O que acha da entrada do seu pai na política?
Kely - Ele tem facilidade em conseguir espaço num cenário que, infelizmente, ainda exclui os negros no Brasil. Ele poderá abrir caminho para muita gente.
Folha - Recentemente, ele disse que negro deveria votar em negro. Você concorda com isso?
Kely -Claro! No Brasil, os negros são muito acomodados. Aqui há muito mais revolta e isso é bom porque dá para mudar as coisas. Há muito mais políticos negros nos EUA do que no Brasil.
Folha - Você acha que o Brasil é mais racista que os EUA?
Kely - Os dois países são muito racistas. Aqui os negros estão mais organizados, mais rebeldes. No Brasil todo mundo finge que está tudo bem, que não tem racismo. Mas, quando vou em festas com meu pai, somos os únicos negros.
Folha - Você pensa em voltar a morar no Brasil?
Kely - Quero investir na minha carreira e seria besteira sair dos EUA agora.

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