São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
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Doenças e pragas ameaçam safra de soja

DA REPORTAGEM LOCAL

Mal assimilaram o impacto do cancro da haste sobre suas lavouras, os produtores de soja enfrentam agora o nematóide do cisto, seu mais novo inimigo, surgido na safra 92/93.
O verme já infesta 1 milhão de hectares, 22% da área de soja do Brasil, e causou prejuízos de US$ 150 milhões nas últimas três safras, segundo João Flávio Veloso Silva, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O cancro da haste, causado por um fungo, é responsável por perdas de US$ 300 milhões, desde que surgiu no país, em 1989.
Mas a Embrapa espera que em dois anos haja oferta suficiente de variedades resistentes à doença.
No caso do nematóide de cisto, a tendência das perdas é crescente, diz Silva. Em 92, o verme apareceu em três cidades de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso.
Na safra 94/95, a praga se espalhou por 46 cidades e incluiu os Estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Preocupado com o alastramento da doença, o Ministério da Agricultura prometeu liberar R$ 850 mil para a Embrapa coordenar, a partir deste mês, um levantamento nacional da situação das lavouras.
O nematóide ataca as raízes da soja, causando o aparecimento de manchas amarelas nas folhas e a diminuição da altura das plantas.
A praga também provoca a redução do número de grãos ou o abortamento das vagens da soja.
A contaminação das lavouras se dá por meio dos cistos (corpo morto da fêmea que carrega em seu interior até 500 ovos).
Espalhados pelo solo, os cistos podem ser carregados para outras lavouras em calçados, máquinas e equipamentos ou pelo vento.
Até 98, a Embrapa pretende desenvolver variedades resistentes ao verme. A empresa trouxe dos EUA materiais resistentes, que estão sendo cruzados com variedades produtivas.
Também estão sendo pesquisados fungos que parasitam os ovos dos nematóides. Identificados os fungos, a idéia é repassar aos agricultores técnicas de manejo do solo que elevem as populações dos inimigos naturais do verme.
Contudo o principal combate ao nematóide deve ser feito pelo agricultor, evitando trânsito excessivo de pessoas nas lavouras e limpando as máquinas alugadas.
Práticas como a rotação de culturas e o plantio direto também ajudam na guerra contra a praga.
"Mesmo o uso de variedades resistentes no futuro não será suficiente para eliminar o ataque da praga, que apresenta uma grande variabilidade genética", diz Silva.
Novas raças de nematóides, mais agressivas, tendem a continuar surgindo. "O desenvolvimento de variedades resistentes, por si só, não é a salvação da lavoura".
O nematóide é o principal problema fitossanitário da lavoura de soja em alguns dos principais países produtores.
Ovos do verme provavelmente foram trazidos dos EUA ao Brasil acidentalmente, diz o pesquisador.
A Embrapa também está preocupada com o uso indiscriminado de agrotóxicos no controle da lagarta da soja.
Flávio Moscardi, pesquisador da empresa, diz que na fase de desenvolvimento vegetativo, agrotóxicos ou produtos biológicos somente devem ser aplicados caso haja mais de 20 lagartas por metro de fileira de soja ou acima de 30% de desfolhamento.
Na fase reprodutiva do vegetal, o uso de produtos deve ser feito se houver mais de 20 lagartas por metro de fileira ou percentual superior a 15% de desfolhamento.

ONDE SABER MAIS:
Centro Nacional de Pesquisa da Soja da Embrapa, tel. (043) 320-4166, ramal 230, Londrina (PR).

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