São Paulo, quarta-feira, 6 de dezembro de 1995
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Cenário claro para 96

ANDRÉ LAHÓZ

A recente estabilização da economia brasileira trouxe uma grande transparência em relação ao futuro. Há até mesmo uma certa monotonia quando se discute o cenário econômico.
Prova disso é o levantamento feito pela Folha junto a cem empresários na segunda-feira.
Há alguns anos, levantamento semelhante certamente resultaria em uma disparidade enorme sobre questões como atividade econômica, inflação e variação cambial.
Agora, praticamente todos concordam sobre os três pontos.
O PIB brasileiro deverá crescer entre 3% e 5% em 1996, segundo a imensa maioria dos entrevistados. A média é de 4,11%.
Um número, aliás, semelhante ao de 1995 e compatível com as projeções que o próprio governo vem fazendo.
Sobre a taxa de inflação, o acumulado para o ano de 1996 ficará entre 12% e 20%, para os empresários ouvidos.
Na média, a estimativa é de quase 18%. Significa uma taxa abaixo da de 1995, mas acima das previsões (otimistas) do governo, que chega a admitir inflação de um dígito.
No caso do dólar, a média dos empresários prevê cotação a R$ 1,09 no final de 1996. Com somente duas exceções, os empresários acham que a cotação estará igual a R$ 1 ou acima disso. A desvalorização média do real embutida nas previsões é de 12,4%.
O cenário, traçado por uma amostra extremamente representativa do empresariado, dá uma idéia clara do que deve ser o próximo ano.
O crescimento deve ser baixo, embora positivo. A variação do PIB deve superar o crescimento populacional. Ou seja, na média, os brasileiros estarão mais ricos no fim do ano (é importante observar que se, na média, haverá crescimento, o aumento do desemprego e as falências de empresas resultarão em uma situação pior para muita gente).
A inflação será menor, como atestam as estimativas. E assim será por vários motivos: a demanda foi controlada, a safra agrícola não será ruim (mas também não será boa), as importações continuarão altas, os juros continuarão elevados (embora menores) e, importante, a taxa real de câmbio não deverá ser desvalorizada.
Se os empresários estão prevendo desvalorização cambial de 12% para uma inflação de 18% no ano, estão apostando que o dólar será novamente usado para segurar os preços.
Como as reservas estão altas e a âncora cambial realmente funcionou para segurar os preços, a tentação, certamente, será grande.
A valorização do real deve trazer de volta os déficits comerciais, mas não há, no curto prazo, maiores problemas de financiamento externo.
Outro desequilíbrio que se arrastará para o próximo ano é o fiscal. Os números recentes mostram uma enorme deterioração das contas públicas.
A política de juros altos explica, em boa medida, a piora nos resultados do governo. Tal conta pode não comprometer a taxa de inflação nos próximos meses, mas mina o Plano Real em sua base.
A taxa de juros deve cair ao longo do próximo ano, aliviando um pouco o custo da dívida do governo. Mas 1996 será um ano eleitoral, época na qual, normalmente, os governos tendem a ser contrários a qualquer corte de despesas.

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