São Paulo, quarta-feira, 6 de dezembro de 1995
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Santos passa de mero figurante a finalista

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Tio de Cyro Monteiro e dos irmãos Peixoto (Cauby, Moacyr e Araken, êta linha média!), Nonô era um gênio no piano. Mas nunca havia jogado futebol quando se viu escalado na zaga do time dos artistas da rádio Mayrink Veiga dos anos 30.
Na primeira bola que lhe caiu aos pés, Nonô, sem saber o que fazer, foi em frente. Passou a intermediária, o meio-campo, chegou à outra linha média, enquanto Sílvio Caldas, o craque do microfone e do time, esgoelava-se: "Volta, Nonô, volta!" E lá está Nonô, já na área inimiga, onde, finalmente, é desarmado. Sílvio, desesperado, insiste: "Volta!"
Nonô olha desolado para a sua área desguarnecida, lá no horizonte, e responde: "Então chame o táxi, pô!"
Essa historinha, que me foi contada por Sílvio Caldas há muito tempo, vem a calhar no caso do Santos, que saiu lá de trás, como mero figurante, e chegou na fase semifinal do Brasileiro na frente de todos. A diferença é que esse time sempre soube jogar bola. Faltava apenas essa invisível combinação de fatores que faz a diferença entre um simples participante e um candidato ao título, cujo toque final foi a presença de Cabralzinho no banco.
Já no Paulista, sob o comando de Serginho (depois, com Joãozinho), o Santos teve surtos de campeão. Mas ainda não estava no ponto. Sua defesa era extremamente vulnerável, enquanto Corinthians e Palmeiras embalavam. O ajuste final veio com as convocações de Narciso e de Giovanni para a seleção, o que lhes deu status de craque, a silenciosa, mas segura entrada de Ronaldo na zaga central e a de Vágner no ataque, além da vinda de Marcos Adriano para a lateral esquerda, uma crônica deficiência daquele time.
Assim, ao mesmo tempo em que as máquinas dos favoritos Flamengo, Palmeiras, Corinthians emperravam, o Grêmio reduzia a marcha, com os olhos voltados para Tóquio, o Santos engrenou e disparou. Amanhã, diante do Fluminense, o mais modesto dos pretendentes, por isso mesmo o mais traiçoeiro, Cabralzinho chamou o táxi. E o táxi chama-se Pintado, que haverá de dar mais consistência na marcação do meio-campo, num jogo em que o empate favorece o Santos.
Resta saber se essa redução de velocidade em direção ao gol adversário não quebrará o encanto da disparada.

O namoro do São Paulo com Júlio César vem desde quando o extraordinário becão jogava no Guarani. Será que agora sai o beijo final?

Por falar em beque, Antônio Carlos quer ficar no Parque, mas não resistirá a uma proposta milionária dos japoneses. Sua saída será um um vazio impreenchível nesse Palmeiras que segue sonhando alto.

E o Corinthians ataca no alvo: Bentinho, trabalhando com Marcelinho, Souza e Elivélton, lá na frente, fará desse um dos times mais imarcáveis do país.

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