São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 1995
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Grupo prefaciou o punk com drogas pesadas e sadomasoquismo

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Enquanto os Beatles se transformaram, em 1967/68, em símbolo máximo da contracultura, o Velvet Underground veio à luz para encarnar seu oposto simétrico, a própria contracultura.
O grupo de Lou Reed trocava o imaginário hippie que se instalou no mundo à época por outro mais cru e violento, prefaciando o movimento punk que eclodiria dez anos mais tarde.
O nome Velvet Underground, por exemplo, foi retirado de uma livrinho sobre sadomasoquismo. Caiu como luva para um grupo que já costumava cantar abertamente, em músicas como "Venus in Furs", o universo S&M.
Não por acaso, o grupo ficou restrito ao submundo, prescindindo do potencial mercadológico que a cultura hippie já demonstrava.
O Velvet se integrou à trupe underground da Factory de Andy Warhol, passando a participar, em 1966, do "Exploding Plastic Inevitable", happening multimídia que incluía filmes, slides, chicotes e agulhas hipodérmicas.
O primeiro disco ficou mais de um ano engavetado até ser lançado. Quando saiu, o ator Eric Emerson, que aparece em foto da contracapa do disco, precisava de dinheiro e reclamou na Justiça o uso indevido de sua imagem.
A gravadora retirou-o do mercado. Quando voltou -já sem a imagem de Emerson-, foi ofuscado pelo lançamento de "Sgt. Peppers". Teve pouquíssima repercussão -um número 171 na parada de discos foi seu auge. "White Light/White Heat", disco impregnado de crueza sonora, só chegou ao 199º lugar.
Mesmo assim, músicas como a faixa-título e "Sister Ray" se inscrevem entre as criações que mais influenciaram a história do pop.
"Sister Ray" por si bastava para afugentar grande parcela de público narrando, em 18 minutos de distorção, uma orgia entre marinheiros e travestis regada a heroína. Nem o engenheiro de som ficou até o fim da gravação.
Após a saída de Cale, o som do Velvet suavizou-se. As letras de Reed, no entanto, continuaram as mesmas. Como a doce "Candy Says" ("Candy" diz: 'Eu existo para odiar meu corpo' ), inspirada pelo travesti Candy Darling, que frequentava a Factory de Warhol.
Sterling Morrison explica, no livro que acompanha a caixa, que Reed gostava de se esconder atrás de personas, atribuindo a elas suas idéias e sentimentos. Mas era ele a alma do Velvet Underground, mais que Cale ou Warhol. Tanto que foi Reed quem comandou, em 93, histórica reunião do grupo para um show, registrado no CD duplo "Live MCMXCIII" -outro lançamento que passou em brancas nuvens.

Caixa: Peel Slowly and See
Grupo: Velvet Underground
Lançamento: PolyGram (importado)
Encomenda: Baratos Afins (av. São João, 439; tel. 011/223-3629)
Quanto: R$ 100, em média

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