São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 1995 |
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O Estado caixa-preta
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - O governador Mário Covas confessa-se alarmado com a verdadeira caixa-preta que herdou ao assumir o governo do Estado. E não apenas pelo buraco no caixa propriamente dito, de todos já conhecido.Havia também absoluta carência de informações e a mais absurda falta de controle. O exemplo mais dramático vem da área de educação: havia cerca de 200 mil crianças a mais matriculadas nas escolas estaduais em relação ao número que deveria existir, de acordo com o censo. Ora, 200 mil crianças, a 400 por escola, preenchem 500 escolas. Como é possível administrar-se um Estado sem saber se sobravam nada mais nada menos do que 500 escolas ou se o número delas era de fato o necessário? Outro dado: há em São Paulo 2.200 obras inacabadas, que, ainda por cima, deixaram para o Estado o lastro de uma dívida da ordem de R$ 2,6 bilhões. Nos contratos de terceirização de serviços a anarquia era total, a ponto de algumas instituições públicas pagarem meros R$ 0,50 por homem/hora e outras gastarem, com a mesma rubrica, 16 vezes mais, ou R$ 8,00. Só agora, a 25 dias de completar seu primeiro ano de gestão, o governador sente-se seguro a respeito dos números do Estado que administra. Falta ainda, é verdade, o censo agrícola, mas Covas acha que a Prodesp (a empresa estadual de processamento de dados) lhe dá as informações essenciais, sem as quais não há como gerir o que quer que seja. Não tenho condições de avaliar o trabalho da Prodesp, mas suspeito que vai ser preciso muito mais do que informações para recolocar o Estado nos trilhos. Vai ser necessária, por exemplo, uma reengenharia da própria sociedade para que ela tenha interesse e condições de fiscalizar o monstro. Outro dado citado pelo governador indica as dimensões da tarefa: a Secretaria da Educação do Estado é a quarta maior empregadora do mundo, com seus 350 mil funcionários. Nem o mais vigilante dos governadores ou a mais ativa secretária da Educação consegue controlar uma "empresa" de tal porte, a menos que o público ajude a fazê-lo, contando com a disseminação dos dados da Prodesp. Texto Anterior: Ditadura de branco Próximo Texto: Um Drummond sem versos Índice |
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