São Paulo, sexta-feira, 8 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Tom Jobim Inédito' chega oito anos depois

Disco distribuído como brinde em 87 chega ao mercado

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Foi, há oito anos, um presentaço de Natal. Vinha numa caixa. Dentro, um vinil com 23 faixas e um livro, capa dura, de 213 páginas. Homenagem aos 60 anos de Tom Jobim. Brinde de fim de ano da Odebrecht. Papai Noel: Jairo Severiano, produtor do disco e autor da até então mais completa discografia de Tom, que fechava o livro, uma biografia do maestro fartamente ilustrada e assinada por Sergio Cabral, com prefácio de Dorival Caymmi.
O LP era uma beleza. Tom ao piano, cercado pela Banda Nova, aquele grupo musical familiar (o filho Paulinho, a mulher Ana, a filha Elizabeth, a sobrinha Simone etc.) que o acompanhou durante dez anos e se apresentou pela última vez no domingo passado, no Municipal paulistano. Última vez, mesmo. Órfãos de Tom, todos se dispersaram.
Retificando: o disco é uma beleza. Ficou agora mais, digamos, democrático, pois a BMG-Ariola resolveu torná-lo acessível ao resto da humanidade, numa caixa bem menor que a original: o tamanho certo para dois CDs e um livreto (com as letras das músicas, mas, infelizmente, sem a bio de Cabral e a discografia de Severiano). É pelo título "Tom Jobim Inédito" que você deve pedi-lo na loja.
Mas voltemos a 1987. Ano especial. Em fevereiro, o projeto da Odebrecht foi aprovado. Em março, nasceu a segunda filha do maestro, Maria Luiza Helena. De março a setembro, o disco foi bolado, ensaiado, gravado e mixado. No meio disso tudo, aquele excelente especial da TV Globo, "Antônio, o Brasileiro". O próprio Tom escolheu o repertório: 22 músicas dele e mais uma ("Modinha") da dupla Villa-Lobos/Manuel Bandeira para fazer "pendant" com a "Modinha" que ele compôs com Vinicius e Elizete Cardoso lançara em 1958. A seleção é uma síntese de sua obra. Principal novidade: sete temas nunca haviam sido gravados pelo autor. Ou seja, a gente conhecia "Eu Sei Que Vou Te Amar" até com o Pepito y Sus Cha Cha Chapas e o duo Mara e Cota, mas não com o Tom. Por incrível que pareça, "Eu Não Existo Sem Você" -soprada pelas musas enquanto o parceiro de Vinicius fritava um ovo de madrugada e lançada por Elizete Cardoso em 1958- já havia sido gravada até pelo Trio Los Panchos e pela Lira de Xopotó, menos pelo Tom, que aliás, galantemente, a programou como um dueto com Ana Lontra Jobim.
Outro clássico celebrizado por Elizete, "A Canção do Amor Demais", também era inédito com o nosso Gershwin. As demais, à exceção de "Sucedeu Assim (adivinhe quem a lançou), têm menos fama e currículo: "Imagina" (valsa do tempo em que Tom ainda estudava com Lúcia Branco e antes só gravada por Djavan e Olívia Byington), "Derradeira Primavera" e "Canção em Modo Menor" (ambas postas em circulação há 33 anos por Elza Laranjeira).
Mesmo aqueles que veneram as interpretações, aparentemente insuperáveis, de João Gilberto para "Chega de Saudade", de Tom & Elis para "Águas de Março", de Silvinha Telles para "Canta, Canta Mais" e de Agostinho dos Santos para "Estrada do Sol" e "A Felicidade" vão se encantar com a nova roupagem providenciada pelo maestro e as límpidas performances dirigidas por Jaques Morelenbaum e Paulinho Jobim. Em 1987 elas tinham, é óbvio, mais frescor. Mas em todas as faixas a Banda Nova ainda brilha tranquila e nem de leve vacila. Ah, sim, quem lançou "Sucedeu Assim". Não foi Silvia Telles. Nem Agostinho dos Santos. Foi a atriz Vanja Orico, já lá se vão 38 anos.

Disco: Tom Jobim Inédito
Artista: Tom Jobim
Lançamento: BMG-Ariola

Texto Anterior: Auguste Rodin fez fisiologia das paixões
Próximo Texto: "5 x Comédia" faz antologia do besteirol
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.