São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
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Especialistas discutem relação corpo-mente

DA REPORTAGEM LOCAL

O lançamento do livro "Corpo-Mente: uma Fronteira Móvel", organizado pelo psicanalista Luiz Carlos Junqueira Filho, mostrou as diferentes visões que a psiquiatria, a psicanálise e a literatura têm sobre o tema.
O livro é resultado do 2º Encontro Bienal de Psicanálise, organizado pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, e foi lançado pela Folha e pela editora Casa do Psicólogo na semana passada com um debate mediado por Mario Vitor Santos, editor de Revistas da Folha.
Participaram o psiquiatra Valentim Gentil Filho, chefe do serviço de psiquiatria do Hospital das Clínicas, o professor de literatura grega da USP Antonio Medina Rodrigues e o psicanalista Junqueira Filho. O psicólogo Luís Cláudio Figueiredo, convidado a participar do evento, não pôde comparecer por problemas de saúde.
Junqueira Filho falou sobre a inserção da psicanálise entre a arte e a ciência, a importância do auto-retrato na fronteira entre o romântico e o psíquico.
"Focalizo o olho e a pintura como janela da alma", disse. "Nos auto-retratos de Artaud captamos o esforço para recuperar um eu ameaçado de se esfacelar."
Ele explicou que a exploração psicanalítica da mente se dá por intermédio da construção de uma fisionomia interior do analisado, conseguida por insights (termo que descreve a visão interior obtida pelo olho da mente).
"Na constituição dessas visões, o suporte sensorial entra como um solvente que se evapora e dá lugar a um precipitado emocional."
O professor Rodrigues mostrou como os gregos da Ilíada de Homero viam o tema. "A visão corpo e mente em Homero é integrada dentro das relações sociais e fora delas não há nada."
O mundo de Homero é o da ação, prático e dinâmico. "Não há a palavra corpo, é um universo de partes, o homem de Homero não está disposto a criar um sistema, e a alma é funcional, um órgão que o corpo perde ao morrer."
O psiquiatra Gentil Filho discutiu a ética da intervenção terapêutica na regulação do humor.
"Interferir no sentido de diminuir a angústia parece imoral, eticamente complicado", disse. "Até que ponto se pode dizer às pessoas continuem assim ou vamos explorar isso o máximo que pudermos? Dando a essa pessoa um remédio, vou usar um instrumento profano, eticamente inaceitável."

"CORPO-MENTE, UMA FRONTEIRA MÓVEL", Editora Casa do Psicólogo, 500 páginas, R$ 58,00

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