São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995 |
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Eizo Sugawa ilustra niilismo japonês após a guerra
INÁCIO ARAUJO
Ficou num fatal segundo plano em seu país. Quando se fala de Sugawa a um crítico influente, como Tadao Sato, ele torce o nariz e, com polidez nipônica, admite apenas que Sugawa alternava filmes bons e outros bem menos. Em suma, Sugawa é, até hoje, uma paixão brasileira. Embora tenha sido, grosso modo, da mesma geração da chamada Nouvelle Vague Japonesa, passou ao largo dela. Isso se poderá observar em "Desafio à Vida" (amanhã, às 21h40, e dia 16, também às 21h40), de 1961, um dos seus três filmes que serão projetados no ciclo da Sala Cinemateca. Na época, o crítico paulista Rubem Biáfora não poupou elogios e definiu-o como "o filme" que mais lembra a poesia e o clima de Rimbaud em todo o cinema conhecido. A observação cai como uma luva em Izaki, veterano que viu a morte de seu melhor amigo durante a guerra, que fracassou ao tentar o suicídio ao lado de sua companheira. Esse homem que depois se emprega numa empresa de petróleo (do pai de seu amigo morto, diga-se) será todo o tempo habitado pela paixão da morte, que vê como uma espécie de dívida que tem em relação àqueles que morreram durante a Segunda Guerra Mundial. "Desafio à Vida" é também um filme que observa com agudeza o Japão no início dos anos 60, precisando voltar-se para o trauma da guerra, vivenciá-lo, resgatar-se da derrota, nem que fosse pela morte, para voltar a existir. "Caça às Feras" (hoje e dias 12 e 15, sempre às 21h40) é um policial sobre um grupo terrorista, a Frente Negra, que sequestra um executivo da Coca-Cola e pede, como resgate, a publicação da fórmula secreta do refrigerante. Há um quê cômico, irrisório, nisso tudo. Mas o que se pode ver, ali, é um Japão ainda cheio das feridas da guerra, incerto entre integrar a ordem mundial e uma obstinada marginalidade. É o desespero que move os jovens da Frente Negra, uma quase trágica inconsequência. Um terceiro filme de Sugawa ("A Volúpia da Vingança", de 1974) será exibido no ciclo (dias 11, 14 e 17, sempre às 21h40). Há pouco, Sugawa dizia que os tempos mudaram, talvez o Japão de hoje já não seja o que descreveu nesses filmes. Mas eles permanecem um testemunho fortíssimo, em tom niilista, da incerta travessia do deserto pelos japoneses no Pós-Guerra. Texto Anterior: Ciclo mostra o cinema japonês comercial Próximo Texto: Animais pré-históricos dão força a adolescentes em 'Power Rangers' Índice |
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