São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
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Exposição sobre Freud é cancelada nos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A Biblioteca do Congresso dos EUA resolveu suspender a exposição "Sigmund Freud: Conflito e Cultura", programada para abrir em um ano.
Críticas cerradas de diversos acadêmicos para quem a mostra seria muito pró-Freud foram o principal motivo para a decisão, embora problemas de financiamento também tenham sido alegados por dirigentes da biblioteca.
Embora oficialmente o projeto só esteja adiado por um ano, sua eventual retomada é tida em Washington como muito improvável.
A Biblioteca do Congresso é a maior do mundo e a exposição seria a mais completa sobre o pai da psicanálise jamais realizada.
A decisão ajuda a reforçar duas tendências na vida intelectual norte-americana neste final de século: a queda do prestígio da psicanálise e as crescentes dificuldades para museus e similares recontarem a história.
Este ano, o Museu do Ar e do Espaço do Instituto Smithsonian foi obrigado a reduzir a quase nada a mostra que havia planejado para marcar os 50 anos da primeira explosão atômica da história.
Nesse caso, o motivo foi a reação de conservadores contra o que julgavam ser uma revisão muito liberal e antipatriótica do ataque nuclear dos EUA contra a cidade de Hiroshima ao fim da Segunda Guerra Mundial.
No caso da Biblioteca do Congresso, o movimento contra a exposição partiu de 50 intelectuais, do antropólogo Oliver Sacks à feminista Gloria Steinem, para quem a mostra não incluía suficientes críticas a Freud.
A comissão curadora da exposição é constituída, segundo eles, só por apologistas de Freud, como o historiador Peter Gay e o analista Harold Blum.
Gay acha que instituições culturais devem ter o direito de apresentar um "argumento central" para nortear uma mostra sob o risco de se tornar desfocada ou chata.
Ele ataca o conceito de que toda manifestação pública deva conter todos os pontos de vista sob o argumento de que ele acaba com a liberdade de expressão.
Um dos líderes da oposição à mostra, o historiador Peter Swales, diz que age em defesa do consumidor. Swales acha que Freud foi um impostor e que a exposição iria fazer propaganda dele em uma entidade pública.
O curador da mostra, o historiador Michael Roth, argumenta que Freud teve "influência decisiva sobre o pensamento do século 20" e por isso foi escolhido como objeto de uma exposição.
Roth diz que a exibição vai ser realizada e seus pressupostos mantidos. Diz que a suspensão se deve ao fato de ainda faltarem U$ 352 mil para se completar seu orçamento de US$ 1 milhão.

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