São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995 |
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Diplomata também enfrenta dupla jornada
PAULO SAMPAIO
Machismo? A embaixadora do Brasil em Haia, na Holanda, Vera Pedrosa, 59, responde diplomaticamente que o Ministério das Relações Exteriores apenas reflete a realidade brasileira. "Não existe mais machismo na carreira diplomática do que nas outras de uma maneira geral", afirma Vera. Hoje em dia pode ter melhorado. Mas houve um tempo, entre 1938 e 1954, em que as mulheres foram proibidas por lei de cursar o Instituto Rio Branco (que forma diplomatas). Em 1953, a futura diplomata Sandra Maria Cordeiro de Mello teve de entrar na Justiça com um mandado de segurança e conseguir uma liminar (decisão provisória) para fazer o curso sub judice (aguardando a decisão do juiz). A decisão final foi favorável à volta das mulheres e aos poucos elas reapareceram na carreira diplomática. Logo no começo, ainda havia muito para conquistar. Segundo a assessoria jurídica do Itamaraty, antes, se a mulher era diplomata e o marido também, a praxe a fazia acompanhá-lo nas missões. Nessas ocasiões, descontavam dela o tempo de serviço e as promoções acabavam adiadas. O casamento -com um diplomata ou não- é sempre muito complicado na carreira da mulher diplomata. A embaixadora Vera Pedrosa, por exemplo, foi casada com um homem que não era diplomata, teve três filhos e diz que sempre se interessou pela diplomacia -mas sua vida "não combinava com a carreira"."Só depois de separada pensei seriamente em ser diplomata", afirma. A embaixadora em Moscou, Thereza Quintella, 57 (a terceira é Gilda Guimarães, que representa o Brasil em Roma), tem 35 anos de carreira, três filhos e também atravessou boa parte da vida profissional já separada do marido. "O casamento não é um impedimento, mas torna mais difíceis as coisas para uma mulher que precisa morar fora", diz. O presidente da Associação dos Diplomatas Brasileiros, Sérgio Bath, 64, concorda e vai além. "A estrutura social facilita o trabalho do homem diplomata e dificulta o da mulher diplomata", diz. "É bem mais fácil encontrar mulheres que acompanharam seus maridos diplomatas do que homens que deixaram o trabalho para seguir a missão da diplomata." No caso do homem diplomata, ter uma embaixatriz (como é chamada a mulher do embaixador) que acompanhe a carreira dele é quase uma exigência no currículo. "A embaixatriz tem uma função importantíssima. Ela administra a casa, os empregados e cuida do protocolo", diz Vera Pedrosa. "A embaixadora sozinha, ou mesmo casada, tem um trabalho duplo." O salário é o mesmo. O mínimo da carreira é cerca de R$ 1.500, pago ao terceiro secretário (depois, em ordem crescente na hierarquia, vêm o segundo, o primeiro, o conselheiro, o ministro de segunda classe e o embaixador, que ganha em média R$ 9.000). Segundo o ministro André Amado, diretor do Rio Branco, as mulheres representam 25% das turmas atuais. Na época de Vera e Thereza, não passavam de 15%. "Na minha turma eram quatro mulheres e 33 homens", diz Vera. O interesse da mulher pela carreira aumentou, mas o índice de aprovação delas ainda é menor que o dos homens. Thereza Quintella, que foi diretora do instituto, nunca descobriu a razão. "Para mim, é um mistério." O embaixador Sérgio Bath arrisca um palpite. "Para o homem, a carreira é uma decisão mais grave. As moças ainda têm como opção o casamento e uma vida próxima da família", afirma. Texto Anterior: Folha traz mergulhador para palestra na terça Próximo Texto: DEPOIMENTO Índice |
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