São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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Autocensura dita regras na Rede Record

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Escolher a programação da Rede Record é um exercício de autocensura. A emissora engaveta produções estrangeiras consideradas impróprias e, em caso de liberação, corta as cenas mais fortes de sexo e violência e tenta suavizar os diálogos na dublagem.
Antes de exibir filmes ou episódios de seriados, o setor de programação analisa cada produto levando em conta a ligação da emissora com a igreja. Desde 1990, a Record é do bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus.
"O bispo não diz o que pode e o que não pode ser exibido. Mas não dá para desconsiderar o fato de que ele é o dono da empresa", afirma Eduardo Lafon, 48, diretor de Programação e Operações da Record.
No arquivo da emissora, uma das produções consideradas impróprias é "O Último Refúgio", um filme de 1971 que enfoca o conflito entre católicos e protestantes na época medieval. A direção é de James Clavell e os atores principais são Michael Caine, Omar Sharif e Florinda Bolkan.
A lista dos não-liberados inclui ainda o desenho "American Pop", que destaca o comércio das drogas, e o filme "Destino Implacável", com o ator David Carradine -este último aborda a prostituição.
Algumas produções são embargadas, mas acabam liberadas graças à edição -entenda-se cortes e alterações nos diálogos com a dublagem. É o caso do seriado "Arquivo X", que teve cinco episódios suspensos (leia texto abaixo).
"É desagradável alterar um original, mas, em alguns casos, é o único jeito de garantir sua exibição", afirma Milton Zanella, 70, programador de filmes da Record.
Zanella diz que a emissora não pode exibir cenas de sexo muito ousadas ou usar uma linguagem "pesada" na dublagem . "Se a cena for rápida e mostrada de longe, não tem problema. Mas nu frontal, por exemplo, não passa de jeito nenhum."
As cenas de violência explícita também sofrem alterações. Zanella lembra que o filme "O Toque da Morte" precisou ser editado. "Tiramos a cena em que uma pessoa tem a cabeça cortada. Mostramos só o matador tirando a espada e depois a cabeça pulando."
Zanella, que atualmente é o responsável pela compra de filmes na emissora, conta que a atual filosofia é evitar histórias sobre religião, sexo ou drogas. "Para não correr o risco de comprar uma produção que vá contra os princípios da igreja, costumo analisar cuidadosamente as sinopses e os traileres."
Procurado pela Folha, o bispo João Batista Ramos da Silva, presidente de Record, preferiu não dar declarações.

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