São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 1995
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Crianças do Brasil vivem em estado de guerra

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

O representante do Unicef no Brasil, Agop Kayayan, afirmou que as crianças dos morros do Rio de Janeiro e da periferia da cidade de São Paulo vivem uma situação de guerra semelhante ao conflito na ex-Iugoslávia.
"É um processo similar: as crianças usam armas, morrem como soldados, comportam-se como adultos num mundo de adultos e se transformam em cidadãos superviolentos", disse Kayayan.
O relatório da Unicef "Situação Mundial da Infância 1996", divulgado ontem em São Paulo, revela que na última década as guerras mataram 2 milhões de crianças, deixaram incapacitadas cerca de 5 milhões e traumatizaram psicologicamente 10 milhões.
Ainda de acordo com o documento, que foi lançado ontem simultaneamente em Londres (Inglaterra), as guerras desabrigaram 12 milhões de crianças e fizeram órfãs ou separadas dos pais mais de 1 milhão.
Segundo Kayayan, as crianças e adolescentes nas favelas do Rio e na periferia de São Paulo testemunham um grau de violência que se aproxima ao experimentado por jovens em outras partes do mundo.
Em 94, ocorreram 113 mil mortes entre zero e 14 anos de idade, segundo dados do IBGE. Desses casos, 7,20% tiveram como motivo causas violentas, como homicídios, atropelamento e acidentes.
O representante do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) disse ainda que "o Brasil é inviável se não mudar sua política de educação básica". Kayayan citou a taxa de 34% de analfabetismo de crianças de 11 a 14 anos no Nordeste, outro dado do IBGE, como um exemplo de "absurdo".
"O Brasil também tem desrespeitado o direito à vida", disse, comentando a classificação do país como o 63º pior colocado no relatório "Situação Mundial da Infância". Segundo Kayayan, o governo federal tem o discurso e o diagnóstico certos sobre os problemas da infância, mas precisaria transformá-los em prioridade.
O representante do Unicef disse ainda que os recursos precisam ser melhor aplicados. Criticou o gasto excessivo com partos cesarianos em detrimento de programas com agentes de saúde para um trabalho preventivo.

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