São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 1995
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Estudo mostra que posse da terra é o principal problema dos 'mocambos'

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é mais a cor da pele, mas a posse das terras o principal problema dos descendentes dos negros que fundaram quilombos -ou mocambos, como eles chamam- no Baixo Amazonas.
"O que eu lamento e fico sentida é de ver nossa mesa tomada pelos outros, e nós ficamos olhando com fome sem podê comê. Isso eu lamento muito. Que no tempo dos meus avós, que eu me criei, isto tudo era liberto, nós não tinha preocupação: não tem comida, pega um peixe, pega uma tartaruga e nós vamo comê. Hoje em dia, nós temo saudade. Se nós pega uma, nós temo que comê escondido senão vamo preso", conta Maria Francisca, neta de mocambeiros."
Esse testemunho é relatado na dissertação de Eurípedes Antônio Funes, 45, "Nasci nas Matas Nunca Tive Senhor: História e Memória dos Mocambos do Baixo Amazonas", defendida na USP.
Inicialmente, o professor de história respondeu a "uma indagação que se tornou lugar comum: na Amazônia houve escravidão africana?"
"Não só houve, como ali se formaram vários mocambos, em geral nas 'águas bravas', cachoeiras, nos altos dos rios Trombetas, Cuminá-Erepecuru, Curuá."
Respondida essa pergunta, Fune analisa "a teia de relacionamentos historicamente construída pelos quilombolas, que lhes confere sentido de legitimidade, possibilitando sua sobrevivência".
Uma das comunidades estudadas foi a do Pacoval, no rio Curuá, município de Alenquer (PA).
"Ali encontrei os remanescentes dos quilombolas do Inferno", local onde, em 1876, 152 quilombolas foram presos e 135 deles levados a Belém.
A tese recolhe diversos depoimentos orais, para reconstituir a história dos mocambos.
Também faz um levantamento de tradições locais -como o "Cordão do Marambiré" e o medicamento "contra veneno".
(FR)

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