São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 1995
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A emenda indecente

MARIA ERCILIA
DA FOLHA ONLINE

Em 95 o dinheiro e a censura chegaram à Internet; e justamente na semana passada a temperatura subiu a níveis nunca vistos nos dois quesitos. Todas as principais empresas de informática americanas entraram na dança, fazendo acordos e alianças para garantir seu terreno na rede.
Enquanto isso, o Congresso americano entrou no estágio final da aprovação da emenda Exon, que impõe restrições severíssimas à liberdade de expressão na rede.
Na quinta-feira Bill Gates passou o dia anunciando novas estratégias para a Internet. A Microsoft está desenvolvendo uma linguagem em três dimensões para a Web (quem não está?), que vai chamar de Active VRML. Licenciou ainda o Java, linguagem de programação multimídia e três dimensões da Sun). O que significa que o Explorer (browser do Windows 95) também vai poder "enxergar" páginas criadas com o Java.
Surpresa: Gates fez um acordo com seu arqui-rival Larry Ellison, da Oracle. A linguagem Visual Basic Script da Microsoft será incorporada ao Power Browser da Oracle.
A disputa entre Gates e Ellison tinha descido ao nível pessoal nos últimos tempos. Ellison andava fazendo previsões apocalípticas sobre o fim do PC, ridicularizadas por Gates. Os dois são a antítese um do outro: Ellison é um esnobe que tem um jardim japonês em casa e adora malhar. Gates é aquele nerd de óculos que todo mundo conhece.
Os dois agora têm algo em comum: o medo de que a Netscape (http://www.netscape.com), que já conquistou 80% dos usuários da Web, engula o mercado de software para a Internet definitivamente. Gates até admitiu que a Netscape estava à frente da Microsoft na semana passada. "Estamos a quase zero em termos de browsers (programas para a Web)", disse ele.
A Microsoft ganhou muitas manchetes com seu anúncio, mas estava apenas reagindo ao acordo assinado na segunda-feira pela Silicon Graphics, Sun e Netscape, para unificar a linguagem de script da Netscape (para programação de páginas) e o Java (linguagem desenvolvida pela Sun, que permite transmissão de animações e modelos em 3-D).
Só para esquentar também a semana que começa: há rumores de que a Microsoft deve adquirir 49% da cadeia de TV NBÁ (da General Electrics), num negócio de US$ 4 bilhões.
A lista de acordos, fusões e licenciamentos da semana não cabe nesta coluna (leia mais nas páginas das empresas). A IBM (http://ncc.hursley.ibm.com/javainfo) licenciou também o Java, para vários softwares, até o Notus Notes. Parece que o Java está mais ou menos garantido.
A Microsoft está sendo obrigada a licenciar as linguagens em uso na Web, como o Java, pois se teimar em estabelecer um padrão próprio, pode ficar isolada.
Onda de choque Shockwave!!! Esse brinquedo, por exemplo, é só para quem usa Netscape. O mapa da mina é o seguinte: vá até a página da Netscape, dê um download neste programa, depois corra para o endereço http://www.mcli.dist.maricopa.edu/director/shockwavelist.html e escolha algumas páginas. Adorei o Club Analog, a página de Raul Silva (tem um joguinho muito legal; http://www.tezcat.com/~raul/sindex.html) e o mixer do Deep Forest (http://mbinter.com/deepforest/deepforest.html). Mas o campeão é a página de Alan NoJava (http://www.mcli.dist.maricopa.edu/alan/nojava/).
Censura Aquela emenda Exon, que vem abrindo caminho em Washington desde fevereiro (leia mais no http://www.vtw.org/exon/), foi aprovada por uma margem estreita na última quarta-feira. Ela prevê multas de até US$ 100 mil e prisão para quem transmitir material "indecente" pela Internet. Na prática, isso reduziria o tráfego americano da Internet a assuntos próprios para crianças.
Ou seja, a legislação para a Internet seria mais restrita que para TV, jornal e qualquer outro meio de comunicação.
Ontem teve uma passeata em San Francisco contra a emenda, organizada pela revista "Wired". Hoje é o dia oficial de protesto dos americanos na Internet, em que milhares de cartas e telefonemas contra a emenda chegarão ao Congresso. O projeto ainda tem de passar por Clinton, que tem poder de veto.
A Hotwired lançou um editorial cujo título é um sutil protesto à emenda: "Fuck, Piss, Shit".

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