São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 1995
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Professor disseca cadáver para comemorar 50 anos de medicina

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O professor Liberato John DiDio, 75, comemorou ontem 50 anos como médico dissecando um cadáver para uma platéia de jornalistas. Ao longo de meio século, o professor dissecou mais de 5.500 cadáveres para estudantes norte-americanos e brasileiros.
"Não queria morrer sem essa oportunidade", brincou DiDio, que deu a "aula" na Universidade de Santo Amaro, em São Paulo, onde é professor de anatomia. Durante 35 anos, ele ensinou em universidades americanas, fundou a faculdade de medicina de Ohio e se aposentou como pró-reitor. É considerado um dos maiores anatomistas do mundo.
"DiDio levou para os EUA a escola anatômica de São Paulo, uma das mais renomadas", diz um dos seus ex-alunos, Antonio Atílio Laudanna, professor-titular de gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP.
A "escola anatômica" da USP começou com a vinda do professor italiano Afonso Bovero e teve como seu discípulo maior o anatomista Renato Locchi.
"O seguidor direto dessa escola é DiDio", diz Laudanna.
Nos anos 60, o professor liderou uma campanha para doação de corpos que ficou famosa nos EUA. "Por que deixar os cadáveres aos vermes se eles serao úteis a todos nós?", perguntava nas portas de igrejas e em salas de aulas.
Na semana seguinte, as crianças traziam os pais para preencherem as fichas de doação, mas muitos voltavam atrás meses depois.
O professor criou então uma taxa de US$ 60 para a doação e uma multa de US$ 120 para quem desistisse dela. "Até hoje sobram cadáveres nos serviços onde trabalhei", diz o professor. Outra vantagem foi o aumento de doação nas classes média e alta, diz o professor. "Esses cadáveres têm uma história clínica que enriquecem a pesquisa e podem resultar em informações importantes para o médico da família."
No Brasil, as escolas de medicina trabalham com cadáveres de indigentes vítimas de mortes naturais cujos corpos não são procurados por suas famílias. "As doações de cadáveres são raras", diz Ricardo Luiz Smith, professor-titular de anatomia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Os corpos são mantidos em formol por um ano e depois usados ao longo de meses nas aulas de anatomia. As 80 faculdades de medicina do país usam cerca de 1.600 corpos por ano. "É nas aulas de anatomia, diante de um cadáver, que os alunos aprendem os primeiros princípios éticos", diz Smith.

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