São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 1995 |
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Sai na França biografia de Paul Valéry
VINICIUS TORRES FREIRE
Em "Paul Valéry" (editora Plon), Dénis Bertholet diz escrever sobre um "poeta sem poesia, um filósofo antifilósofo, um não-escritor que escreve". De si mesmo, o poeta escreveu: "Os outros fazem livros; eu, a minha mente". Apesar de ter publicado a maioria de seus livros a partir de 1900, Valéry é uma espécie de último grande poeta francês do século 19 que não teve nomes a sua altura no século seguinte em seu país. Sua poesia é uma espécie de continuação e depuração ao infinito do trabalho daquele que chamava de mestre, Stéphane Mallarmé (1842-1898). Suas reflexões críticas influenciaram de maneira fundamental filósofos como o alemão Theodor Adorno (1903-1969), autor de uma das maiores sínteses da filosofia da arte do século 20, a "Teoria Estética". A vida da Valéry não teve nada de espetacular. Não foi um Arthur Rimbaud (1854-91), que largou a poesia para traficar armas na África depois de um caso descabelado com outro poeta, Paul Verlaine (1844-96). Aos 19 anos conhece Mallarmé, por quem seria "adotado" espiritualmente. Torna-se amigo e correspondente dos escritores André Gide e Pierre Louys (de quem não percebe muito bem as piadas homossexuais nas cartas). Escreve os primeiros livros, que lhe dão certa fama, e por volta de 1896 se cala por 20 anos. Casa, tem três filhos, algumas amantes, trabalha como burocrata, vive uma mundanidade discreta em salões intelectuais. O silêncio era uma ruminação sobre os limites da linguagem e sobre o rigor poético. "A expressão de um sentimento sincero é banal. Quanto mais sincero, mais banal. Para que não o seja, é preciso fazer esforço", escreveu. Estas reflexões seriam publicadas em "Variétés" (1924-1944), "Mauvaises Pensées" (1942) e "Cahiers", 1957. "Ostinato rigore", o lema de Leonardo da Vinci, é também o de Valéry, que o discutiu em "Introdução ao Método de Leonardo da Vinci", um de seus primeiros livros. Instigado por Gide, volta a escrever por volta de 1912. Pensa em compor uma "adeus à poesia", em vinte versos. Depois de quatro anos, terá escrito "A Jovem Parca", um de seus maiores poemas (traduzido no Brasil por Augusto de Campos). Valéry começa então a carreira de poeta oficial. Entra para a Academia Francesa. Torna-se "embaixador" da cultura francesa. Seu enterro foi uma cerimônia oficial, com honras de Estado. Texto Anterior: TVA exibe em janeiro novas séries da BBC Próximo Texto: Dreyfuss é professor em 'Mr. Holland Opus' Índice |
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