São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 1995
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Formalismo inglês perde-se no 'Rio Kwai'

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Uma ponte é, concretamente, o que liga as duas margens de um rio. Mas pode ser um pouco mais: pode unir universos opostos, como acontece "A Ponte do Rio Kwai" (CNT/Gazeta, 22h30).
Ali, Alec Guinness é um aplicado oficial britânico que, após ser feito prisioneiro, luta bravamente para que seus homens (oficiais, em particular) tenham direito a tratamento digno, conforme o regulamento dos guerreiros e tal.
Uma vez aceitas as condições, empenha-se em mostrar o valor de um oficial inglês e dedica todas as suas forças à tarefa que lhe é confiada, de construir uma ponte sobre rio Kwai.
Estamos na Segunda Guerra Mundial e a ponte é estratégica para os japoneses. Mas o oficial está empenhado, unicamente, em demonstrar a superioridade racial britânica.
O que era um caso de prisioneiros de guerra, torna-se uma questão de pertinência. A quem serve, de fato, esse oficial? A seu exército ou à idéia genérica de honra?
Todo o filme de David Lean desenvolve-se em torno dessa dúvida e de outras conexas, tal como a que envolve a noção militar de sanidade mental.
Mas Lean é um filho meio renegado da Grã-Bretanha e esta não é a primeira nem a última vez em que se empenha em desfazer de seus compatriotas.
No caso, toda a questão, para o oficial Guinness, é formal: como se deve tratar um prisioneiro, quais os privilégios dos oficiais. Por aí. Essa formalidade tão britânica será levada às últimas consequências, ao limiar da traição.
Essa passagem da honra à infâmia se dá quase imperceptivelmente. Esta inscrita em um universo de crenças que, estas sim, o filme coloca no pelourinho. Com uma elegância e discrição também britânicas, diga-se.
(IA)

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