São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 1995
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Acaba confinamento de tropas brasileiras

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A ANDULO

Parte da força de paz brasileira em Angola viveu momentos tensos antes de ter seu movimento novamente permitido pela guerrilha da Unita (União para a Independência Total de Angola).
Na prática, o confinamento foi encerrado ontem quando chegaram em Andulo os primeiros veículos brasileiros vindos do comando do batalhão em Cuito.
"Eu não quero voltar aqui para discutir os mortos. Eu não quero trazer cadáveres", chegou a dizer um oficial da guerrilha, major Jorge, ao capitão brasileiro Valdicler Almeida Pinto, responsável pela 1ª Companhia de Fuzileiros, nas proximidades de Andulo.
A ameaça foi feita depois que a Unita confinou as tropas brasileiras da força de paz em duas bases perto da cidade, a partir da meia-noite do último dia 3.
Parte da companhia ainda está no porto de Lobito. No dia do confinamento, havia 21 homens no local onde está sendo construída a base, comandados pelo sargento Josué Bastos Tavares, e outros 47 em uma missão religiosa abandonada, a 22 km de distância, comandados pelo capitão Valdicler. Só ontem todos os militares isolados na missão voltaram à base.
Ao tentar entrar em contato com o pelotão isolado na base, e com cinco observadores da força de paz em Andulo (um dos quais brasileiro), o capitão chegou a ser ameaçado com fuzis por guerrilheiros.
O motivo alegado pela Unita para Valdicler foi uma ação militar do governo na Província de Zaire. Só depois disto, ele foi informado de que haveria também a questão de um possível assédio sexual a uma mulher casada e de mal-entendidos relacionados com um culto evangélico do qual participaram militares brasileiros.
O "assédio" alegado foi a entrega por um cabo brasileiro de um comprimido para dor de cabeça para uma mulher -na frente de várias testemunhas.
No culto evangélico em que teria havido ofensa ao líder da Unita, Jonas Savimbi, aconteceu justamente o contrário. O pastor angolano elogiou Savimbi e pediu que um brasileiro, o segundo-sargento Francisco Gomes Leal, lesse um trecho da Bíblia.
O trecho, escolhido pelo pastor era Mateus, capítulo 17, versículos 14 a 21, que fala do poder de cura daqueles que crêem em Jesus.
O terceiro-sargento Jangson Modesto Dias Lopes gravou o culto. Também existe gravada uma declaração de outro oficial da Unita, major Soluti, que participou do culto, inocentando os brasileiros.
Além de nervosos com o ataque do governo no norte, o pessoal da Unita está mais sensível porque seu líder máximo, Savimbi, está em Andulo.

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