São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995
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Respeito aos restaurantes

PERCIVAL MARICATO

A relevância das centenas de restaurantes e bares existentes em São Paulo ultrapassa o plano econômico. Estende-se ao social -para cada R$ 5.000 investidos, cria-se um emprego. Além disso, o setor gera renda, serviços e tributos. Oferece os locais que possibilitam o desenvolvimento da vida social, cultural e lúdica da cidade. E colabora para o turismo: vida noturna e restaurantes estão entre as maiores atrações de São Paulo.
Apesar de tudo isso, algumas autoridades governamentais não hesitam em denegrir a imagem dos empresários de restaurantes com ações que criam tensões desnecessárias, abalam a confiabilidade de estabelecimentos honestos e afugentam investimentos.
São Paulo é a única cidade do mundo onde comprar um produto na feira e levá-lo ao restaurante de sua propriedade tem motivado a interdição do estabelecimento e a prisão do proprietário. O mesmo pode acontecer se houver um iogurte vencido. É a única cidade do planeta onde o cigarro é totalmente proibido em bares, assim como a colocação de toldos e mesas nas calçadas.
A Câmara dos Vereadores de São Paulo examina projetos onerosos como proibição de venda de bebidas em balcão, exigência de paredes de vidro nas cozinhas e trituradores para latas. Tramita um projeto que aumenta em 500% as multas, que hoje já estão em média na faixa de R$ 164.
O prefeito Paulo Maluf gastou parte da escassa receita municipal em caríssimos out-doors que trazem implícita a falsa generalização de que todo restaurante é potencialmente sujo e todo empresário, malfeitor. Em qualquer capital do país, exceto São Paulo, os prefeitos têm planos de apoio ao setor, devido à sua importância social e econômica.
O Decon deteve mais proprietários de restaurantes este ano do que a polícia toda prendeu assaltantes de bancos (bicheiro não conta, sua atividade já é considerada normal). E quando um proprietário de restaurantes precisa de polícia para se defender, é comum receber a alegação de que falta contingente, viatura ou até combustível para ir ao local.
Tudo isso é feito sem que se registre um único ato de governo que auxilie o setor a continuar a investir, gerar empregos e tributos, multiplicar a cultura e o lazer e atrair turistas. Leis que poderiam incentivar os restaurantes e tornar a cidade mais alegre, como a de mesas nas calçadas, jamais são reguladas.
Acostumados a enfrentar sozinhos essas dificuldades, os empresários do setor estão aprendendo que a dignidade não tem preço e começam a se organizar para resistir aos abusos. Nesse contexto, a imprensa tem um papel fundamental. Espera-se que ela desvende o caráter demagógico e arbitrário desses atos dos governantes e passe a cobrar o fim das arbitrariedades e um tratamento ao setor de restaurantes à altura da contribuição que ele dá à vida dos cidadãos e à economia do país.

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