São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 1995 |
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Procuradoria vê lavagem de dinheiro
ABNOR GONDIM
São cheques, notas fiscais e faturas de despesas de campanha. A papelada, ainda inédita, integra o conjunto de 249 documentos arquivados na pasta cor-de-rosa. Os documentos foram manuseados ontem pela Folha. A Procuradoria da República suspeita que o Econômico tenha lançado gastos eleitorais como despesas correntes do banco. A ação caracterizaria delito fiscal. A Folha procurou Calmon de Sá durante todo o dia de ontem. Ninguém atendia o telefone em sua casa, em Salvador. Algumas notas sob suspeita referem-se a supostos serviços prestados ao banco. Mas estão anexadas às fichas dos políticos. É o caso de três faturas da TV Bahia, do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), referentes a supostos serviços de publicidade, entre agosto e novembro de 90. Uma delas registra o valor CR$ 250 mil. Está expressa em cruzeiros reais, moeda da época. O senador foi também o maior crítico da intervenção do Econômico pelo Banco Central, em agosto passado. Ele nega ter recebido dinheiro do banco baiano. O pefelista sustenta que a verba serviu mesmo para financiar o patrocínio do Econômico a programas da TV Bahia. Diz ter em mãos recibos e livros da emissora. Há ainda no lote de documentos manuseados pela Folha um forte indício de que o Econômico realmente utilizava notas "frias". Trata-se de carta do chefe de gabinete do banco, Antonio Ivo de Almeida, a José Santos Pereira, candidato a deputado estadual. Em 25 de outubro de 90, Almeida comunica ao candidato "a devolução da fatura/DP, por não ter sido utilizada". A nota é de uma empresa do próprio Pereira. Diz respeito a "prestação de serviços de assessoria". O valor do serviço de assessoria é de Cr$ 1,5 milhão, em dinheiro da época. Um procurador da República ouvido pela Folha disse acreditar que essa nota fiscal foi devolvida porque o "caixa dois" do Econômico já tinha reunido uma boa quantidade de notas "frias", a ponto de dispensar mais uma. A suposta "prestação de serviços de assessoria" foi também a justificativa apontada em notas fiscais pagas por empreiteiras a empresas do esquema de corrupção montado no governo Collor (1990-92) pelo seu ex-tesoureiro Paulo César Farias. Outra indício de notas "frias" para financiar as campanhas políticas é a do corretor Ary Gomes, cuja fatura informa que ele recebeu Cr$ 250 mil para "vender imóveis do Banco Econômico". A nota de Gomes informa que sua firma está registrada sob o CGC (Cadastro Geral de Contribuintes) 34.131.904/0001-78 e está instalada, em Salvador, na av. Estados Unidos, 528, sala 1015. O que se questiona é o que uma nota de corretor de imóveis estaria fazendo em uma pasta que agrupa documentos de financiamento de campanhas eleitorais. Suspeita-se que a nota tenha servido apenas para "esquentar" a doação feita a políticos. A pasta rosa traz também documentos que indicam uma tática de contribuição utilizada por Ângelo Calmon de Sá, ex-dono do Econômico. Ele distribuía as doações a políticos entre empresas do grupo. Uma anotação em papel timbrado de Calmon de Sá traz os nomes das empresas Politeno, Polialden, Poliquimi e Metacrel, com os números 350, 350, 100 e 100, respectivamente. Acima da anotação está a sigla ACM -do senador Antônio Carlos Magalhães. Texto Anterior: FHC ERROU AO NÃO PROTESTAR CONTRA A CHINA? Próximo Texto: Doação pode chegar a US$ 2,55 milhões Índice |
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