São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
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Produzir: um duro castigo

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Sabe qual é a posição do Brasil entre os maiores exportadores do mundo? Os Estados Unidos estão em primeiro lugar, respondendo por mais de 12% das exportações mundiais; a Alemanha vem em segundo, com 10%, e o Japão, em terceiro, com 9,5%.
Na "lanterninha" estão o México, Malásia e Rússia, com pouco mais de 1% cada um. O Brasil nem sequer aparece na lista.
Esses são dados da revista "Economist" de 18/11/95. Eles refletem a ausência total de uma política industrial no Brasil.
Enquanto os demais países do mundo estimulam as exportações, muitos deles até subsidiando-as, o nosso grava-as com impostos que variam entre 12% e 27% e cobra o dobro do que se paga nos melhores portos do mundo para movimentar um simples contêiner. Se a intenção era fazer uma política antiindustrial, conseguiram.
Estamos no meio da mais dramática crise de emprego. Dizem que não há recessão, mas as falências e concordatas batem recorde. A indústria paulista demitiu mais de 150 mil trabalhadores só este ano que, por sua vez, se somaram aos 4 milhões de desempregados de todo o país. No trabalho informal estão mais de 30 milhões de brasileiros.
O país não está tendo forças para criar bons empregos ou, simplesmente, empregos. As nossas cidades transformaram-se em verdadeiros dormitórios, com gente dormindo nos parques, debaixo dos viadutos, nas sarjetas, calçadas e em qualquer lugar em que se possa deitar. A continuar assim, chegaremos facilmente ao Quarto Mundo.
É decepcionante ver o país exportando tão pouco e se debatendo em problemas tão graves. O ministro Domingos Cavallo anunciou que a Argentina aumentou suas exportações em 50% em 1995. O anúncio foi feito aqui no Brasil, nas nossas barbas, sabendo que somos o maior parceiro do Mercosul.
Por que não fazermos o mesmo? As exportações geram muitos empregos. O Brasil, como a 9ª economia do mundo, não pode continuar fora da lista dos 20 maiores exportadores. E muito menos continuar estimulando as importações em detrimento das exportações. Isso é um absurdo!
O governo anuncia um crescimento do PIB da ordem de 4% para 1996. Mas o grosso desse crescimento virá do comércio e serviços -onde é grande a incidência do mercado informal. É a indústria que ainda oferece as melhores oportunidades de trabalho.
Pena que o governo a maltrate tanto, inibindo a sua capacidade de gerar renda, impostos e, sobretudo, empregos. Não dá para entender.
São 46 anos que luto por uma política industrial. Gostaria de ver em vida uma diretriz clara que viesse estimular quem produz.
Nos últimos anos, os grandes agraciados pelas "políticas" governamentais foram os especuladores que sempre viveram da inflação -esses mesmos que para 1996 se aprontam para demitir em massa porque a moeda se estabilizou.
Está na hora de reverter esse quadro, pensando-se mais em produção e menos em especulação.

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