São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
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Cidades salvaram Ieltsin de tragédia eleitoral

HELEN WOMACK
DO "THE INDEPENDENT", EM MOSCOU

As primeiras notícias das eleições que chegaram da costa leste da Rússia, sete fusos horários à frente de Moscou, eram pouco animadoras para o ocupante das torres de tijolos vermelhos de Moscou.
Os resultados preliminares mostravam vitórias avassaladoras do líder ultranacionalista Vladimir Jirinovski e dos comunistas.
Mas, conforme as apurações foram chegando a Moscou, os reformistas foram ganhando votos e ficou claro para o presidente Boris Ieltsin que ele teria um Parlamento pouco mais hostil do que a Duma que está saindo.
Após duas eleições democráticas, uma regra parece emergir: o eleitorado das imensas Províncias russas vota de forma conservadora, mas as grandes cidades do oeste tendem a ser reformistas -e isso vale especialmente para Moscou, uma ilha de riqueza em meio a um mar de pobreza rural.
Os habitantes das áreas rurais se ressentem dos moscovitas e outros moradores de cidades, que começam a experimentar os frutos do mercado livre.
É claro que a minoria de milionários de Moscou, que circulam em suas limusines, vota de forma a manter o seu estilo de vida. Mas os quase 20% alcançados na cidade pelo governista Nosso Lar É a Rússia, primeiro lugar na capital, mostram que há ainda um grupo grande de moscovitas que sentem que podem ser beneficiados pelas reformas.
O grupo liberal Iabloko também se saiu bem, empatando com os comunistas em segundo lugar. O Iabloko ganhou na histórica cidade de Iaroslav (320 km a nordeste de Moscou) e foi bem em São Petersburgo, considerada a "janela russa para o Ocidente". A antiga capital imperial desenvolveu laços de comércio com os países nórdicos, e por isso as prateleiras da cidade são bem abastecidas.
O voto comunista veio mesmo do extremo oriente, onde, por exemplo, marinheiros estão furiosos com o declínio da frota do Pacífico -com registros de soldados morrendo de fome.
O apoio aos comunistas também veio da Sibéria, incluindo a região mineradora de Kemerovo, que certa vez quase derrubou Gorbatchov por causa de uma greve. E veio também do "cinturão vermelho, a região agrícola tradicionalmente conservadora na fronteira com a Ucrânia. Em todas essas áreas, Jirinovski esteve perto dos comunistas.
Mas a grande surpresa das eleições foi o mau resultado do Congresso das Comunidades Russas, nacionalista. Mas seu carismático líder, o general Alexander Lebed, se salvou porque metade das cadeiras na Duma está reservada às disputas dentro dos distritos. Sua base eleitoral, Tula, não o abandonou.
Os observadores internacionais congratularam a Rússia pelas eleições justas e limpas. Elas provavelmente foram mesmo, exceto na Tchetchênia, onde os eleitores ganharam carne para votar, enquanto os separatistas continuam a resistir à intervenção militar russa.
Por isso, não foi surpresa que o candidato único à liderança local, Doku Zavgaiev, apoiado por Moscou, tenha sido declarado vencedor com 90% dos votos, no velho estilo soviético.

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