São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 1995
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Desejo conduz a dança em 'Sete Noivas'

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Sete Noivas para Sete Irmãos" (Globo, 2h) desvia-se um pouco da tradição do musical, gênero afeito a uma certa leveza tanto da ambientação, com frequência sofisticado, como dos sentimentos.
Aqui, estamos às voltas com rudes lenhadores do Oregon, na segunda metade do século passado. Mais: a trama se desencadeia em função do casamento de um dos irmãos (Howard Keel).
A ambientação determina uma cenografia despojada -o quadro é de um faroeste- e a bela coreografia de Michael Kidd, em que a acrobacia triunfa sobre a delicadeza.
Em definitivo, Fred Astaire não seria o ator ideal para este filme.
Ao mesmo tempo, a trama acena para a ruptura na comunidade masculina. Ou seja: se um irmão tem o direito de casar, por que não os outros?
Então, é o episódio do Rapto das Sabinas -na Roma antiga- que se transporta para o Oeste. Já que não há garotas à disposição por ali, será preciso buscá-las em outro lugar, mesmo que na condição de sequestradas.
É verdade, os rapazes são poços de bons sentimentos, o que coloca um pouco em surdina a natureza da operação. Mas, desde que a humanidade optou pela hexogamia -o casamento fora do quadro familiar-, todo casamento tem um aspecto próximo ao sequestro.
Ele consiste em uma subversão de uma dada ordem: a mulher deve deixar os seus e fazer parte de outra família.
É esse aspecto que o filme de Stanley Donen trabalha: o amor não é consentido, é algo que se conquista ao nada. Implica a superação, pelo desejo, de uma barreira imaginária que separa os seres. Em "Sete Noivas", pode-se dizer, o desejo transbordante dá força ao filme.
(IA)

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