São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Tom ganha songbook instrumental

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A nova produção musical do violonista e editor carioca Almir Chediak -idealizador de uma série de songbooks com grandes autores da música popular brasileira- destaca 32 composições de Tom Jobim (1927-1994) que não chegaram a receber letras.
Duas delas eram inéditas. Na linha de outras belas melodias dedicadas pelo mestre da bossa nova a figuras femininas, a lírica "Tema para Ana" aparece em interpretação do autor, tocando piano, em uma gravação doméstica.
Foi a própria homenageada -Ana Lontra Jobim, mulher do compositor- que cedeu a fita a Chediak. Apesar do trabalho de restauração, a qualidade sonora ainda é deficiente, mas a possibilidade de ouvir o tema com o próprio Tom, que chega a murmurar algo próximo de um verso, justifica plenamente sua inclusão.
A outra composição inédita é a etérea "Paulo Vôo Livre (A Lenda dos Homens-Asa)", que Tom dedicou originalmente a seu filho Paulo. O tributo familiar ampliou-se na gravação: tocando piano, Daniel Jobim homenageia ao mesmo tempo o pai e o avô.
Como conta no texto do encarte, para aumentar o superelenco do disco, em geral Chediak convidou dois músicos de destaque para liderarem cada faixa. Entre duos, trios, quartetos ou formações maiores, mais de cem instrumentistas acabaram participando.
A conhecida riqueza melódico-harmônica de Jobim abre espaço para vários gêneros de interpretação. De versões mais eruditas a outras marcadamente jazzísticas, cada músico projetou no repertório jobiniano sua bagagem musical.
É o que se nota, por exemplo, nas participações do pianista e arranjador Leandro Braga. Ao lado da Cia. das Cordas (em "Arquitetura de Morar"), do Quinteto Villa-Lobos (em "Tempo do Mar") e do Rio Cello Ensemble (em "O Homem"), ele ajuda a revelar o universo erudito de Jobim.
Já com o virtuosístico grupo carioca O Trio, no delicado arranjo do violonista Maurício Carrilho para "Meu Amigo Radamés", surge um Jobim mais próximo do choro e das serestas -caminho seguido também por Cristóvão Bastos (piano) e Marco Pereira (violão), em "Radamés e Pelé".
Mais jazzísticas são as faixas comandadas pelo pianista Luiz Avellar ("Choro"), pelo Quarteto Livre ("Antigua"), ou por Antonio Adolfo e Serginho do Trombone ("Mojave"). Não faltam também versões irreverentes, como a de Hermeto Pascoal para "Tema Jazz". Acompanhado por Osmar Milito (piano), o "bruxo" improvisa com uma escaleta e vocaliza num prosaico copo com água.
Há até os que projetam doses de latinidade em Jobim, como o arranjo de João Donato para "Olha pro Céu". Ou a levada pop-latina que embala o sax de Léo Gandelman e a guitarra de Victor Biglione, em "Rockanalia".
Ao final das 32 faixas, não é só a amplitude da obra de Jobim que salta aos ouvidos, mas a própria riqueza da música instrumental brasileira. Uma preciosidade que a grande maioria dos brasileiros ainda desconhece.

Disco: Antonio Carlos Jobim - Songbook Instrumental
Elenco: Tom Jobim, Antonio Adolfo, Ed Motta, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, João Donato, Marco Pereira, Mauro Senise, Nelson Ayres, Nivaldo Ornelas, Paulo Bellinati, Roberto Menescal, Sivuca, Ulisses Rocha, Victor Biglione, Zé Nogueira e outros.
Lançamento: Lumiar (CD duplo)
Quanto: R$ 40,00 (em média)

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