São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 1995
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Motoristas evitam assalto em semáforo

BETINA BERNARDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O menino M.S., 12 anos, foi cercado por motoristas ontem, na avenida Duque de Caxias (região central de São Paulo), ao tentar assaltar com um caco de vidro a representante de vendas Neusa Rúcolo, que estava parada em seu Gol no sinal vermelho.
Cerca de 30 mil carros passam diariamente pela avenida.
M.S. diz que levou chutes e socos de várias pessoas. Ele estava com um hematoma no rosto, na altura do olho esquerdo.
Neusa conta que uma parte da janela do motorista estava aberta. M.S. se aproximou e a ameaçou com o caco de vidro. Sentada no banco do carona, a representante de vendas Carmin, que não quis dar o sobrenome, gritou.
"Na hora que vi o garoto com aquele vidro, abri a porta do carro e pedi socorro", disse Carmin.
M.S. saiu correndo, mas foi alcançado por dois motoqueiros que também estavam no sinal. "Um outro rapaz o pegou e levou para a calçada. Ele chegou a dar um chute no garoto, mas ninguém bateu, só ficamos segurando", disse o motoqueiro Alexandre Ferreira, 19.
M.S. diz que foi jogado no chão, recebeu chutes e socos e teve seu braço torcido. "A loura ficou me apertando o pescoço", contou, se referindo a Carmin.
"Eu segurei o corpo dele com força para ele não escapar. Eu queria dar no moleque, só não bati porque a polícia não deixou. Ele não levou nenhum tapa", afirma.
O soldado da Polícia Militar Frade diz que, ao chegar ao local, viu que seguravam M.S. pelo braço e que ele se debatia para fugir.
Os comerciantes da calçada em frente ao local onde M.S. teria apanhado dizem que não viram ninguém batendo no menino.
"Ele ficou se arranhando, se mordendo e se batendo para dizer que apanhou", disse Neusa, que já sofreu outras duas tentativas de assalto com vidro no trânsito.
Nos meses de setembro e outubro, ocorreram em média oito assaltos por dia com essas características no centro de São Paulo, de acordo com o delegado Wesley Costa Veloso, da Delegacia Seccional Centro.
"Passamos a fazer rondas reforçadas e encaminhamos mais de cem meninos de rua para o SOS Criança. Com isso, em dezembro foram registrados apenas três casos", diz o delegado.
M.S. foi encaminhado ao SOS Criança. Chorando muito, ele gritava que não queria ir porque tinha que visitar sua mãe na prisão.
A mãe, Márcia de Lima, está presa há quatro meses, acusada de furto. Ontem foi o dia da festa de Natal das presidiárias. Segundo uma policial que não quis se identificar, Márcia esperou pelo filho, que a visita toda semana, e não sabia o que havia acontecido.
Márcia seria internada hoje no hospital penitenciário. Ela é portadora do vírus HIV, causador da Aids.

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