São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 1995
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Alain Corneau filma encanto da diferença

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

A história da arte é a história do sofrimento dos homens e de suas almas. "Todas as Manhãs do Mundo" (Bandeirantes, 22h), de Alain Corneau, toma esse conceito e o transforma em alegoria na história de dois músicos, um mestre e um aprendiz.
Filmado após "Noturno Indiano", um dos melhores trabalhos de Corneau, guarda algumas semelhanças com esse filme anterior: o apuro com as imagens e a narrativa sem grandes invenções.
Mas, em Corneau, de forma alguma isso se converte em limitação. O que muita vezes é entendido como academicismo na verdade é seu rigor. Um cinema que rejeita todos os excessos.
Assim, não é exatamente uma história a que se assiste. O que o filme mostra são cenas do relacionamento entre dois homens com desejos opostos quanto ao mundo.
Há o jovem que ama os prazeres da corte e o velho que vive voluntariamente na exclusão, para quem a música é um fim e não um meio. O talento de Corneau reside em mostrar como essas duas vidas podem ser complementares.
Outro painel das relações humanas, em um registro bem menos nobre, é "Grand Canyon - Ansiedade de uma Geração" (Globo, 22h55), de Lawrence Kasdan.
Quando foi lançado no mercado americano, "Grand Canyon" foi recebido como um filme europeu feito em plena Hollywood, por rejeitar o cinema de ação e preservar não as correrias e sim o diálogo.
Visto hoje, o filme parece não convencer em seu desejo de mostrar a crise contida no cotidiano das grandes cidades por meio da vida de seus moradores.
Seus personagens se parecem mais com clichês do que com pessoas. Ainda que mediano em demasia, o filme não compromete o talento de Kasdan.

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