São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 1995
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'Temos de ampliar o horizonte'

DA REPORTAGEM LOCAL

Frei Betto foi buscar elementos e teorias da física para tentar explicar a obra do "artista", como ele se refere a Deus em seu último livro. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
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Folha - Por que escrever um livro sobre astrofísica?
Frei Betto -A idéia surgiu com a queda do Muro de Berlim, que criou um impasse e a necessidade de mudança de paradigmas. Eu sou um cristão, mas sempre considerei importante o método de análise marxista. Sempre tive simpatia pelo marxismo, aprendi muito com Marx e continuo achando válido. Porém, determinadas categorias do marxismo, como o determinismo histórico, ruíram com o Muro de Berlim. Aí eu vi a necessidade de dar uma contribuição na busca de novos paradigmas e, como eu sempre tive como hobby a astrofísica, resolvi entrar de cabeça nesse negócio. Hoje a modernidade aceita a autonomia da ciência e da religião e o que eu quero mostrar é que elas são autônomas sim, mas têm de manter uma relação de reciprocidade e de complementaridade, para que nós possamos caminhar sobre duas pernas e não sobre uma. Eu quero popularizar questões que têm estado só a nível da academia. Por outro lado, eu quero chegar numa nova ótica sobre o ser e o mundo. Eu quero que as pessoas entendam que nós todos somos parentes, mas somos parentes também do lobo, da flor, da montanha, tudo uma coisa só em forma diferente.
Folha - A sua pretensão ao escrever o livro...
Betto - A minha pretensão era descrever a maravilha de Deus. Há duas maneiras de falar de Deus, dizia Galileu (Galilei): por meio da Bíblia e da matemática. Acontece que nós, da igreja, sempre falamos de Deus pelas categorias religiosas. Eu quis tentar o caminho inverso. Eu sou tão fascinado com a ciência que percebi que as ciências levavam a essa descrição da obra do artista, de Deus. A minha pretensão é explicar a criação, descrever a maravilha e levar o leitor à intuição da presença de Deus.
Folha - Seu livro mostra que os adeptos da Teologia da Libertação procuram novos rumos?
Betto - Os adeptos da Teologia da Libertação estão ampliando o conceito de libertação. A gente tem de ter a capacidade de reconhecer que a conjuntura muda. Se a conjuntura muda, também os nossos instrumentais de análise têm de sofrer mudança. A gente tem de ampliar os horizontes. De fato, estamos ampliando a questão da libertação, até porque as bandeiras hoje -mulher, meio ambiente- são bandeiras que não eram colocadas há 10 ou 20 anos.

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